BM Review: Amor, Sublime Amor

Por Felipe Guimarães

Que Amor, Sublime Amor (no original West Side Story) é um clássico, isso é inegável! O musical faz parte da elite dos musicais, foi montado diversas vezes em vários palcos, já chegou ao seu terceiro revival na Broadway, mas, precisávamos de uma nova versão do clássico filme de 1961? A resposta é sim. 

Tendo uma história inspirada em Romeu e Julieta, Amor, Sublime Amor traz as rivalidades ferozes e amor jovem de Shakespeare para a cidade de Nova Iorque. O clichê que já estamos acostumados a ver em diversos formatos continua: ainda temos a garota que se apaixona pelo garoto, mas, por serem de facções rivais, seu amor pode estar em perigo. 

No começo do longa já é possível perceber que, por mais que você esteja assistindo uma gravação atualizada, os aspectos, cores, paletas e fotografia te remetem imediatamente a um filme antigo. Assim, já podemos perceber a grande diferença que o olhar cinematográfico do diretor Steven Spielberg faz na obra, com o jogo câmeras, cortes e transições sendo notados logo nos primeiros minutos. Além disso, Spielberg faz um trabalho muito importante ao buscar corrigir erros do filme original, oferecendo uma versão linda, com um elenco vigoroso, cheio de energia e porto-riquenhos.

Foto: 20th Centhury Studios

O elenco (quase) todo é um acerto em cheio. Se você lembra do filme de 1961, Natalie Wood era María, uma mulher branca que interpretava uma garota porto-riquenha, e aqui você entende o porquê da versão de 2021 se fazer necessária: com ela, os erros do passado podem ser corrigidos, trazendo um elenco realmente representativo. Por exemplo, originalmente, a única atriz latina era Rita Moreno (nascina em Porto Rico) e ela teve que usar maquiagem para escurecer a pele mesmo assim. Interpretando Anita, Moreno veio ganhar um Oscar pelo papel. 

A escolha de Rachel Zegler é, sem dúvida, um dos grandes achados e, até mesmo, ponto forte do filme. No primeiro momento que ela aparece com o ar jovial de María e misturando o espanhol e inglês, a personagem te encanta. Com os vocais de outro mundo, uma voz muito potente, ao ouvirmos pela primeira vez no filme você entende María como uma garota nova, mas, mesmo assim brava, destemida e brilhante. Todos seus momentos no filme são excepcionais, sejam suas angústias, amores, sonhos, amores e sua inocência é passada a cada segundo. O desempenho de Zegler é fenomenal, sendo uma atuação sensível com camadas que vão se revelando no enredo.

Sua parceira de cena, Ariana DeBose, é quem me surpreendeu e muito. Seu primeiro trabalho de destaque no cinema, em A Festa de Formatura, não conseguiu mostrar seu potencial como os fãs esperavam e na série Schmigadoon, Ariana até tem destaque, mas nada é comparado com o que faz como Anita. Brilhante é a única palavra que consigo usar para descrever sua atuação. Todas as suas cenas são impecáveis, e é como se ela tivesse pego uma consultoria especial com a vencedora do Oscar em 1962 e reproduzido tudo a risca e elevando a barra.

Foto: 20th Centhury Studios

O elenco masculino também traz boas surpresas. Mike Faist como Riff, líder dos Jets, carrega bem o personagem, trazendo ‘nuances’ e adicionando uma camada de canalhice que torna seu personagem desprezível, mas ainda um garoto perdido. Já David Alvarez como Bernardo, irmão mais velho de María, par romântico de Anita e lider dos Sharks, trouxe autenticidade para o personagem. Na verdade, mais que isso. Ele apresenta uma nova versão de Bernado, nos fazendo entender que a única coisa que ele quer é um espaço seguro para si, sua família e sua comunidade. 

E chegamos a Ansel Elgort. O ator, conhecido pelo clichê adolescente A Culpa é das Estrelas e Baby Driver, é até um bom Tony. Ele tenta trazer um Tony que busca entender a María e o seu mundo e até tira algumas gargalhadas ao tentar aprender espanhol. Ainda que com química ao lado de Zegler nas telas, não temos como deixar passar batido as acusações de abuso contra uma menor que surgiram em 2020. Basta lembrar o episódio, sem desfecho até hoje, que qualquer mínimo encantamento por este Tony vai embora. E, quando comparado aos colegas de elenco, Elgort está em um nível abaixo. 

O filme traz também Rita Moreno como em uma homenagem ao original. Aqui, ela interpreta Valentina, a nova versão do Doc, em um papel que faz com grança e muita força sendo totalmente entendível porque já a preveem nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante na temporada de premiações este ano.

Foto: 20th Centhury Studios

Os figurinos e cenários são uma beleza a parte: cores radiantes, tecidos que voam e transformam as coregrafias. Um bom exemplo disso é na cena de Dance at the Gym, em que Sharks e Jets vestem tons vibrantes quentes e frios, representando a tensão e diferença dos rivais. E em America, os vestidos com várias camadas esvoaçantes fazem o olho brilhar e adicionam um algo a mais a performance. 

Além da representatividade do filme, algo importante a ser notado é a falta de legenda nos momentos em espanhol. E se você não tem alguma noção do idioma ou não fez algumas fases no Duolinguo, talvez perca algumas piadas que a nova versão traz. 

As músicas e letras de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim estão todas no filme, misturando um pouco das versões que conhecemos de 1961 com algumas das apresentadas em 1957. O trabalho de Sondheim é um monumento e quaisquer alteração brusca seria uma heresia a um dos maiores compositores de todos os tempos. Outro ponto interessante, e um clássico, do filme é o trabalho coreográfico de Justin Peck que consegue deixa-las mais naturais e limpa. A cada número o espectador adentra em uma mistura da fantasia musical com naturalismo em que sabemos que é irreal, mas, ao mesmo tempo, acreditamos que os personagens estão sendo carregados por uma força qualquer que os faz dançar em sincronia. 

Foto: 20th Centhury Studios

O olhar de diretor de Spielberg é realmente tocante. Cada cena foi muito bem pensada e reimaginada, sendo nos detalhes, cenários e luzes que o remake do filme conquista o público.

Por fim: sim, nós precisávamos de uma nova versão de Amor, Sublime Amor. Uma que tentasse trazer mais da representatividade apagada da primeira versão, porém mantendo ainda a clássica história. Esse é uma obra do cinema musical com muito potencial para ter uma ótima jornada nesta temporada de premiações, sendo uma obra-prima reembalada para os fãs de musicais.

Amor, Sublime Amor estreia dia 9 de dezembro, exclusivamente nos cinemas.

Dan Moura

Olá, meu nome é Daniel Moura, mas todo mundo me chama de Dan. Tenho 32 anos, e 10 anos atrás eu criei a Broadway Meme com o intuito de espalhar a palavra do teatro musical no Brasil.

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