BM entrevista: Jefferson Ferreira

Jefferson Ferreira conta um pouco da sua brilhante carreira e dos desafios de ser 'swing' em produções teatrais

Jefferson Ferreira conta um pouco da sua brilhante carreira e dos desafios de ser ‘swing’ em produções teatrais

Por Brígida Rodrigues

A Broadway Meme está de quadro novo – e esta é a primeira de muitas novidades que virão: uma série de entrevistas envolvendo todos os profissionais ligados ao teatro musical. E o primeiro convidado a ser entrevistado foi o Jefferson Ferreira, que divide a sua carreira agitada entre o ballet, teatro musical e espetáculos em navios cruzeiros. 

Foto por Caio Gallucci

Jefferson esteve em cartaz em “Barnum – O Rei do Show”, em São Paulo, que se despediu do público no último domingo, 28 de novembro, após uma curta temporada de sucesso. Na peça, Jefferson teve a função de ‘swing’, e cobriu nada menos que dezoito artistas. Ou seja, ele cobriu todos os atores e atrizes do ensemble. Sim, sei o que está pensando: impossível. Bem, isso é o que um excelente artista faz. Além disso, ele ainda é coordenador e coreógrafo em uma escola de dança no Rio de Janeiro, e logo logo voltará ao mar como Dance Captain da Royal Caribbean. Ufa!

Jefferson, que é formado em Estatística na UERJ e Tecnologia da Informação na UEZO, também se graduou em Ballet Clássico e Jazz Dance. E seu amor pela dança acabou levando-o também para o teatro musical, onde fez sua estreia ao lado de Miguel Falabella e Marília Pera com o icônico “Alô, Dolly!” (2012), seguindo para “Crazy for You”, com Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello (2013), “We Will Rock You” (2016) e “Barnum – O Rei do Show” (2021). 

Foto por Caio Gallucci

Começar a nossa jornada de entrevistas pelo Jefferson Ferreira foi, acima de tudo, um mergulho pelos desafios de ser um ator tão versátil e dedicado a sua arte. Além da carreira impecável, a Broadway Meme também queria entender um pouco mais como é ser ‘swing’: um papel importante e talvez pouco conhecido pelo público.

BM: Jefferson, primeiramente gostaríamos de dizer que é um prazer enorme tê-lo como convidado na Broadway Meme, estreando o nosso mais novo quadro de entrevistas. Não poderíamos ter começado melhor.

Lendo o seu release, e conhecendo mais da sua carreira, é inevitável pensar: como ele consegue fazer isso? Você conseguiu equilibrar a faculdade de exatas com dois cursos ligados à arte. Como foi esse momento para você? Porque não é fácil balancear tanta coisa, especialmente quando uma delas é tão diferente da carreira que você realmente acabou seguindo depois.

O prazer é todo meu! Obrigado pelo convite e pelas lindas palavras iniciais. Eu brinco hoje em dia que talvez o Jefferson de 32 anos não teria esse pique todo que o de 17 teve de prosseguir com o plano de fazer duas faculdades e ainda incluir a dança nisso tudo… Mas foi tudo perfeito do jeito que foi.

BM: Existe alguém na sua família que tenha te inspirado a seguir carreira na arte? Como foi o seu primeiro contato, o primeiro despertar para esse universo?

Incrivelmente eu sou o único artista da família. E olha que minha família é enorme! (Rs) Eu creio que sempre tive algumas aptidões e tendências para o mundo das artes. Nas brincadeiras quando era criança, nas festinhas em família, nos trabalhos de escola. Mas foi depois de adolescente que eu dei o primeiro passo “oficial” quando criei junto aos meus amigos um grupo amador de teatro para competir em um festival de artes do colégio. Ali eu percebi que aquilo mexia comigo de forma diferente.

BM: Existe algum trabalho que você tenha muita vontade de fazer? Um sonho que tenha para interpretar no palco? Que seria o grande desafio da sua carreira?

Eu sou meio deslumbrado com tudo o que faço e todo o trabalho que eu fecho tem que me oferecer um desafio. Eu preciso desse combustível! Eu participei de um show chamado “Twice Upon a Time” na empresa P&O Australia onde eu era o lead dancer e foi o espetáculo mais técnico e desafiador pra mim como bailarino. Eu precisava ser incansável e interpretar a história aliada à uma técnica bem avançada de clássico e dança contemporânea. Esse espetáculo foi certamente um auge e algo que sempre sonhei em fazer; Mas, no ramo de musicais, existem dois espetáculos que eu sou completamente apaixonado: “Aladdin” e “Newsies”, e eu gostaria muito de ter a oportunidade de fazer um deles um dia. E, ainda em tempo, um grande sonho seria conciliar os dois tipos de trabalhos que eu mais amo: navio cruzeiro e musicais da Broadway. A empresa onde eu trabalho atualmente – Royal Caribbean – possui navios que realizam isso e eu já estou de olho!

BM: Você começou com a dança, mas depois estudou outras formas de arte como atuação e voz. Quando não está nos palcos, como é a sua rotina e treinamento?

Além dos trabalhos como artista, eu também coordeno uma escola de dança no Rio de Janeiro – PEED. Então, quando estou entre um trabalho e outro, aproveito o espaço que tenho lá e procuro sempre fazer aulas para manter o ritmo. O trabalho com a escola também é musical, o que abre espaço para que eu também mantenha contato com o canto e a atuação.

BM: O que você falaria para alguém que tem o mesmo amor e paixão pelos palcos? Que tipo de conselhos você daria?

De estudar, de não desistir nunca e, principalmente, de se diversificar! O mundo das artes nos possibilita explorar diversas opções de trabalho. Às vezes você ama a arte, mas persiste em uma única linha, quando, na verdade, esse amor pode se dar de um outro jeito, seja dançando, atuando, cantando ou até mesmo ensinando. Acho importante e extremamente necessário ter essa maturidade.

BM: Sua história me lembrou muito meu filme favorito, Billy Elliot. Fico pensando que muitas vezes uma única pessoa possa se tornar o exemplo que vai mudar a nossa vida inteira. Qual a importância, para você, de ter um professor, ou alguém que sirva de estímulo e inspiração para seguir uma carreira nas artes?

Imprescindível, fundamental e eu ainda diria essencial! Os artistas se espelham em pessoas reais, em outros artistas que inspiram. Nunca foi diferente pra mim! Os meus mentores, e eu preciso citar a diretora da minha escola Patrícia Estevez, foram essenciais na minha vida! Como eu ainda convivo no meio acadêmico, eu percebo o quão nítida é essa passagem de conhecimento e, hoje em dia, eu me policio pra ser esse símbolo para os meus alunos da melhor forma possível.

BM: Quando conseguiu o seu primeiro grande papel, o que você acha que foi exigido de você? Que foi decisivo para que conseguisse ser escolhido?

Eu demorei um bom tempo pra entender, mas o que mais chama os olhos das pessoas é a sua dedicação, a sua entrega ao trabalho. Demonstrar o quanto você quer e como você faria aquilo bem! Isso conquista professores, incentivadores e até mesmo as bancas de audição. A sua autenticidade é a sua marca, assim como o seu jeito de interpretar, a sua voz e a sua dança são. Então eu apostei nisso, em me dedicar à minha identidade. Até porque bailarinos incríveis já existem em larga escala, assim como cantores e atores no geral. Então quando eu entro num projeto, eu entro de coração e visto a camisa de verdade!

BM: Você desempenha um papel dentro de Barnum que por si só já é muito desafiador. Fale um pouco mais pra gente o que é ser um ‘swing’?

O swing é aquele artista escolhido para substituir qualquer pessoa do ensemble caso necessário. Um papel de grande importância nos musicais lá fora e que está cada vez mais ganhando seu devido reconhecimento aqui no Brasil também. O swing é um artista como qualquer outro do elenco, mas ele possui o plus de observar bem a sua volta e absorver a essência de todos os papéis daquele espetáculo para poder cumpri-los da melhor maneira, sem que hajam buracos nas marcas (mas sempre com sua identidade, como já falei há pouco).

Foto por Caio Gallucci

BM: Eu li que ‘swings’ estão entre os artistas mais requisitados da Broadway. Por que você acha que isso acontece? Qual diferencial um artista precisa ter para ser um bom ‘swing’?

Primeiramente, ser um artista multiuso. Passear por todas as formas de arte e aceitar desafios para aprender coisas novas sempre. Além disso, o swing precisa ter uma aptidão extra de organização, de observação e de agir de forma rápida e efetiva quando necessário substituir alguém às pressas. É uma adrenalina permanente. Você nunca vai pro teatro relaxado e isso precisa ser um combustível pra esse tipo de artista, porque senão ele não aguenta a pressão.

BM: Sabendo que um ‘swing’ pode cobrir vários papéis diferentes, como você se prepara para isso? Porque o ator, quando ele é escolhido para determinado papel, há uma enorme preparação: coreografia, músicas, estudo de personagem, o diretor acompanha o processo e dá dicas, opiniões. Mas quando um ‘swing’ é escolhido para cobrir determinado papel ele não tem tempo hábil para se preparar. Fala um pouco mais sobre como você faz isso, qual o seu processo?

Por isso é necessário participar e observar todos os processos durante os ensaios. Aliás, os ensaios são um momento ESSENCIAL na trajetória de um swing. Aprender bem as coreografias e linhas vocais, para adquirir a habilidade de substituir alguma marca com aquilo tudo já aprendido. A gente precisa estar num nível de dançar qualquer número e dar qualquer fala de olhos vendados para que a única preocupação seja relembrar as marcações da pessoa que você esteja substituindo. E para essas marcações, eu utilizei no processo do Barnum um App incrível chamado Stage Write do grande coreógrafo americano Jeff Whiting que me ajudou demais com todas essas cenas que eu precisava decorar, ainda mais sendo o único swing.

BM: Há uma preparação específica para ser um swing?

Acho que não necessariamente. Eu gosto muito de estar inserido no elenco. Eu faço parte dele! Então eu quero estar junto a todos durante todo o processo de preparação. Isso vai me fazendo ficar em sintonia até para que eu possa substituir alguém num mesmo ritmo e não apresentar problemas no palco para os demais colegas.

BM: E como foi voltar depois de todo esse tempo longe dos palcos devido à pandemia? E especialmente com um show tão rico quanto Barnum?

Foi delicioso e super representativo. Dá pra ver nos olhos de cada artista desse projeto o quanto a gente precisava estar de volta. E, o mais incrível, é que isso já foi perceptível nas audições (já que foi o primeiro musical a começar os processos práticos na pandemia). Isso deu um gás extra e uma união ao grupo que foi um marco na nossa história.

BM: Com o fim da temporada do musical, quais são os seus próximos planos? Quando e onde poderemos te ver novamente?

Agora é a hora de retomar aos poucos o que eu fazia antes da pandemia. Voltar para a minha empresa, Royal Caribbean, para dançar em outro tipo de palco, o flutuante (rs). Amo fazer o que eu faço e ainda viajar. Por isso trabalhar em navios cruzeiros é tudo pra mim! Conhecer lugares que eu nunca imaginei e ainda me desafiar com os grandes shows de alta performance da maior companhia de cruzeiros do mundo é absolutamente um sonho! Então estão todos convidados a me assistir na minha próxima parada: Alasca (rs). Estarei começando o contrato em fevereiro como Dance Captain do navio Serenade of the Seas.

Uau! Alasca! Bem, leitores broadway memers, vocês estão convidados. Desejamos todos os palcos e melhores aventuras do mundo para você, Jefferson, e muito obrigada pela entrevista. 

 

Brígida Rodrigues

Olá! Eu sou a Brígida, estudo Letras e sou uma completa apaixonada por Teatro Musical. Como os meus amigos não aguentam mais me ouvir falar da Broadway e afins, estou aqui para compartilhar um pouquinho desse amor com vocês.

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