“Quem vai ficar com Mário?”: filme traz música tema e números musicais com uma mensagem potente

Quando se fala em comédias românticas muito se pensa naquilo que será superficial, que estará ali apenas para o conforto, sem grandes objetivos ou mensagens finais. Mas acontece que é do simples que gerações são marcadas. Já se perguntou de onde vem o conceito de amor? Quem definiu a monogamia? Quem disse que seria um homem profundamente apaixonado por uma mulher, e não um homem por outro homem, ou uma mulher por outra mulher?  

Somos impactados por definições que nos antecedem. Você pode dizer: odeio poesia. Mas muito provavelmente foi a poesia que ditou a maneira como nos relacionamos romanticamente por vários séculos. Petrarca cantou o seu amor por mulheres inatingíveis, e vários poetas fizeram o mesmo depois. Você pode nunca ter lido um único verso na sua vida, mas vários autores beberam de uma mesma fonte, e no final das contas a Meg Ryan fazendo Mens@gem para você na década de 90 tem um impacto tão profundo nas nossas noções românticas que sequer nos damos conta disso.  

Uma simples comédia romântica pode conter a profundidade de uma mensagem que marcará muitas pessoas, Quem vai ficar com Mário? certamente atingiu esse objetivo. Nas palavras do próprio diretor, Hsu Chien, o filme foi um ponto de virada, e acredito que todos os jornalistas presentes puderam concordar.  

A comédia, que chega nesta quinta (10) nos cinemas de todo o Brasil, nos trás Mário (interpretado por Daniel Rocha), um rapaz que esconde a sexualidade e a escolha profissional do pai conservador. Ele espera, então, por um almoço em família para contar que na verdade não estava no Rio de Janeiro estudando Administração e sim dramaturgia, e é o momento também em que espera contar que é gay e vive a quatro anos com o namorado. Contudo, há uma reviravolta no momento em que ele vai se pronunciar e as novidades são adiadas quando algo inesperado acontece, causando outro rebuliço na família.  

Mário precisa, então, assumir a cervejaria da família e acaba se aproximando de Ana, personagem de Letícia Lima, que é uma coach contratada para colocar a empresa rumo à modernidade.

Há, então, o medo de que o filme erre ao fazer Mário escolher entre um dos dois, e temos um segundo momento surpreendente ao ver o diretor e o texto explorarem os temas da bissexualidade e do poliamor com tanto cuidado e carinho – um agradecimento especial à Nany People, inclusive, que foi a responsável por apontar no roteiro que Mário não precisava necessariamente fazer uma escolha. 

Desnecessário dizer que a Nany estava incrível em todos os números musicais que, por acaso, foram coreografados pelo querido Victor Maia. Victor foi convidado pelo próprio diretor que o viu em uma peça e o trouxe para a equipe – sabiamente, devemos acrescentar. O filme já começa com uma apresentação divertida da Terceira Força, a companhia de teatro, que dança a música O menino e o Espelho, escrita por Hsu Chien e cantada por Pabllo Vittar 

O espelho refletia os olhos do menino
E no silêncio a sua imagem virou medo
Já nem podia enxergar o seu próprio desejo 

Todo mundo que em algum momento enfrentou a tarefa difícil, embora libertadora, de contar a sexualidade para a família e pessoas próximas pode se identificar nos versos cantados em alguns momentos da comédia romântica. A música tem uma batida divertida e viciante, e sua mensagem é poderosa.  

Aliás, o humor foi a fórmula mágica do filme. Na leveza encontraram a maneira de contar que o que importa é o amor, e não os rótulos. Parece uma mensagem batida e clichê, mas no momento em que vivemos tudo isso é posto à prova: não somos um país tão diverso e tolerante quanto imaginávamos ser, e talvez o humor seja a maneira mais eficaz de fazer essa mensagem de amor chegar ao maior número possível de pessoas. Como a própria produtora executiva, Virgínia Kika, citou em seu texto emocionado de abertura “Tudo fica mais palatável através do humor”. A frase é do produtor Pedro Rovai, de quem partiu a ideia do filme, e faleceu em 2018.  

Embora alguns momentos do filme as piadas parecessem bastante caricatas, o resultado final foi muito emocionante. Ter a coragem de ser feliz deveria ser tema para tudo.  

De forma segura, e se você se sentir confortável, assista a esse filme nacional que está, de fato, merecendo os seus elogios. Uma comédia romântica LGBTQIA+ é profundamente necessária, e esperamos que Quem vai ficar com Mário? seja a porta de entrada para que mais filmes assim sejam produzidos.  

Brígida Rodrigues

Olá! Eu sou a Brígida, estudo Letras e sou uma completa apaixonada por Teatro Musical. Como os meus amigos não aguentam mais me ouvir falar da Broadway e afins, estou aqui para compartilhar um pouquinho desse amor com vocês.

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7 Comentários

  • “Ter a coragem de ser feliz deveria ser tema para tudo.”
    Que texto incrível. Que a arte, comédia e amor continue nos salvando como sempre fez. ♡

  • Aí! Li e achei tudo.
    Realmente, as comédias românticas dos anos 90 são icônicas, memoráveis e atemporais. ❤️❤️❤️
    Marcaram gerações, marcou a minha geração, que foi posterior a ela.

    Que texto perfeito Brí! Vou compartilhar com a minha irmã, que certamente vai assistir esse filme.
    Meus parabéns!

  • Que surpresa te ver citar Mensagem para você! Esse filme foi o que mais assisti na minha adolescência e até hoje é um dos meus favoritos! Só de ler/ouvir o nome do filme já sou inundada por várias lembranças nostálgicas – até abri uma aba para procurar esse filme on-line. Essa matéria só me deixou curiosa para assistir quem vai ficar com Mário? Espero que logo logo seja possível vê-lo pela TV, pois pelos cinemas ainda não terei coragem de ir vê-lo.

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