Golden: o musical que nunca brilhou

Mesmo com um elenco estelar, uma direção renomada e o talento de Pharrell Williams, o ambicioso projeto da Universal foi cancelado antes de chegar às telas. O que isso diz sobre o futuro dos filmes musicais?

Atualmente, os filmes musicais vivem uma verdadeira montanha-russa. Para cada sucesso de crítica e bilheteria, como Wicked e Wonka, há diversos outros que fracassam. Mas e quando um filme tem tudo para ser um grande hit e, mesmo assim, nunca chega ao público? Esse é o caso de Golden.

Golden seria o próximo grande musical da Universal Studios após Wicked, e tinha todos os ingredientes para se tornar um sucesso. O filme apresentaria uma emocionante história de amadurecimento ambientada em Virginia Beach, nos Estados Unidos, em 1977. Inspirado na infância do cantor Pharrell Williams, Golden exploraria seus anos de formação e a parceria com Chad Hugo, com quem formou a icônica dupla The Neptunes.

Com músicas do próprio Pharrell e direção de Michel Gondry (conhecido por filmes como o vencedor do Oscar Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Sonhando Acordado e Rebobine, Por Favor), o longa prometia uma experiência única e visualmente marcante. Além disso, contava com um elenco de peso, incluindo Kelvin Harrison Jr. (Mufasa, Cyrano), Halle Bailey (A Pequena Sereia, vencedora do Emmy), Da’Vine Joy Randolph (Os Rejeitados, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), Brian Tyree Henry (Causeway, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), Janelle Monáe (Estrelas Além do Tempo, Glass Onion), Missy Elliott (vencedora de quatro prêmios Grammy), Quinta Brunson (Abbott Elementary, vencedora do Emmy), Anderson Paak (vencedor de vários Grammys) e Jaboukie Young-White (Raya e o Último Dragão, Only Murders in the Building). A trilha ainda contou com a colaboração de Benj Pasek e Justin Paul, a dupla de compositores conhecida por trabalhos como La La Land, O Rei do Show e Dear Evan Hansen.

A receita para o sucesso estava na mesa: um elenco talentoso, uma direção visionária e um artista renomado assinando a trilha sonora. Imagens do filme foram divulgadas e até uma data de estreia havia sido definida para 5 de maio. No entanto, em 7 de fevereiro, a Universal surpreendeu a todos ao anunciar à imprensa que o filme estava cancelado.

O termo cancelado é importante aqui, pois indica que o projeto não será vendido para outra produtora ou retomado no futuro. Ele simplesmente deixou de existir.

Quando questionados sobre os motivos do cancelamento, Michel Gondry e Pharrell Williams explicaram que a decisão foi tomada por não conseguirem concretizar a visão que haviam planejado para o longa.

“Quando todos nós entramos na sala de edição, decidimos coletivamente que não havia um caminho a seguir para contar a versão dessa história que originalmente imaginamos”, disseram em comunicado. “Agradecemos todo o trabalho árduo do talentoso elenco e equipe. Embora estejamos desapontados por não podermos entregar este filme, temos parceiros incríveis na Universal e continuaremos colaborando de outras formas.”

Com apenas um teste e uma decisão, um grande musical foi descartado antes mesmo de chegar ao público. Mas a pergunta que fica é: o que mudou em tão poucos meses?

No ano passado, Pharrell Williams estava radiante com o projeto, chegando a descrevê-lo como uma verdadeira obra de arte: “É muito mais mágico do que isso. É uma celebração da vida negra, da cultura negra e, mais importante, da alegria negra.”

O que aconteceu nesse intervalo? Será que o estúdio não aprovou o resultado final? As sessões de teste foram tão negativas a ponto de levá-los a desistir completamente? Ou temiam que uma recepção ruim pudesse prejudicar Wicked: For Good?

Quando digo que musicais estão sempre na corda bamba, é exatamente sobre isso. Qualquer sinal de possível falha ou desagrado do público é imediatamente usado contra o gênero.

Podemos especular, mas o maior problema é a decisão de não deixar o público julgar por si mesmo. Filmes musicais como Meninas Malvadas e Back to Black foram fracassos de crítica e bilheteria, mas ao menos tiveram a chance de chegar às telas. Golden nem isso teve.

“As pessoas têm medo de assistir a musicais? Sem problema, escondemos o gênero nos trailers e materiais de divulgação.”

“O público não gosta quando os personagens começam a cantar do nada? Sem problema, criamos uma solução narrativa para justificar isso.”

Enquanto outros gêneros têm liberdade para falhar e experimentar novas abordagens, os musicais parecem caminhar em um campo minado. Seja negando que são musicais (sim, estou falando com você, Coringa 2), seja tentando rebatizá-los com termos como ópera visual ou experiência cinematográfica, há sempre um receio em assumir sua identidade.

O orçamento de Golden era de 20 milhões de dólares — modesto, em comparação a outras produções — e todo esse investimento foi descartado. “Mas todos os envolvidos foram pagos”, alguns podem argumentar. No entanto, no audiovisual e no teatro, ser visto é ser lembrado. Não adianta ser remunerado se a vitrine que poderia abrir novas portas simplesmente desaparece por uma única decisão.

O que me surpreende é a Universal e Pharrell Williams tomarem essa atitude. Para um artista que se intitula tão criativo e visionário, abandonar um projeto baseado na própria infância sem sequer tentar salvá-lo soa, no mínimo, covarde.

E assim, seguimos com a frustração de ver o gênero musical batalhando pela própria existência. Mesmo pequenas vitórias não garantem que futuras produções tenham a chance de ver a luz do dia.

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