BM escreve: Os ingressos que nos levam ao teatro

guardo ingressos pra lembrar das coisas que já vi. são papeizinhos que contam parte de quem sou porque a arte nos revela.
os mais preciosos, juntei num quadro.
criei um mapa mundi dos espetáculos por onde andei mesmo sentada na plateia.
morava numa ilha e tinha inveja de quem vivia em cidade grande e podia ir sempre ao teatro. quando me mudei pra SP, era impossível pagar aluguel e ir toda semana. quando vi, tava com falta de arte. já fui em balcão, mezanino e poltronas de “visão prejudicada”.
os ingressos das peças que amei, são inestimáveis.
os das peças que não gostei, foram salgados. tudo tem seu preço.
lembro dos que fiquei esperando horas na fila da bilheteria pra comprar sem taxa. dos que parcelei ao máximo e, ainda assim, caros pra chuchu.
me senti ganhando bem quando consegui comprar os de primeira fileira.
fiquei profundamente agradecida por cada um que ganhei, já que não sou de pedir a única coisa que artistas tem pra vender (Cacilda Becker).
fazer teatro é um investimento caro porque precisa de muitas pessoas além das que vemos em cena. mesmo o que é automatizado, precisa da mão humana. o tempo e o talento dos profissionais tem valor. o espaço, a montagem e a manutenção também. cinema tem a vantagem de realizar várias sessões no dia. atletas de musicais conseguem duas e realizam com bravura esse milagre de quinta à domingo.
ir ao teatro custa e temos chão pra que todos tenham acesso a uma experiência teatral. deveria ser um direito e é um luxo. as contrapartidas sociais em projetos culturais são um bendito avanço, mas a cidade tem que caminhar junto.
“ingresso a preço popular!” mas e quando o musical acaba, o último trem pra voltar pra casa já passou e não hay grana pra voltar de uber?
talvez, um dia, compreendam que não ter oportunidade pode custar ainda mais caro pra sociedade do que o ingresso mais caro da cidade.
o da primeira peça que fui, esfarelou de tanto que suei a mão de segurar até o fim. nos anos 80, não havia plateia premium vip exclusive rainbow e, ainda assim, foi Teatro à primeira vista pra mim. e isso é algo que todos merecem experimentar.

Thaís Gattás

Olás! Eu sou a Thaís Gattás, a Poetha com H. Roteirista que ama e defende as artes com unhas, dentes e alma. Receito os espetáculos de que gosto porque a cultura cura. E compartilho as alegrias e agruras do ofício em verso e prosa.

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