BM Review: A Pequena Sereia

Após anos de espera, a adaptação do desenho de 1989 finalmente chega aos cinemas. Seguindo a linha de remakes em live-action da Disney, o filme que havia sido anunciado em maio de 2016 chega somente agora em 2023 e vem cheio de expectativas. Mesmo com polêmicas com ataques racistas por escolha de elenco, a nova versão do clássico vem com a promessa de ser um grande sucesso.

ENREDO

Dirigido por Rob Marshall (Chicago, Caminhos da Floresta, O Retorno de Mary Poppins) e roteiro de David Magee (O Retorno de Mary Poppins), o filme conta a história de Ariel, uma jovem sereia que sonha em conhecer o mundo fora do mar e, desobedecendo as ordens de seu pai, o Rei Tritão, salva um humano e acaba se apaixonando por ele. Sabendo disso, a bruxa do mar, Úrsula, que almeja usurpar o trono, tenta usar o romance no seu plano de dominar os mares.

Prometendo transformá-la em humana em troca de seus dons de sereia, a princesa precisa conquistar o príncipe e beijá-lo para permanecer humana ou então pertencer à bruxa. Para cumprir o objetivo, Ariel conta com a ajuda do siri Sebastião, do peixinho Linguado e do ganso-patola (gaivota no original) Sabidão.

Sendo um remake é de se esperar que aconteçam alterações. Mas diferente do que aconteceu com Malévola, Mulan, Cruella e Peter Pan & Wendy, essa versão segue a base do original, mas altera detalhes que, no resultado, complementam ou enriquecem o enredo.

Como destacado que Sabidão é outra espécie de ave no longa, isso fez com que o personagem tivesse mais presença na história, tanto em terra como no mar. Além deste, o príncipe Eric também ganhou sua própria narrativa, se tornando o viajante que mesmo contra a vontade da rainha, sua mãe, quer conhecer o mundo e fazer esse conhecimento prosperar o reino. As irmãs de Ariel que agora são responsáveis cada uma por um mar diferente, se reencontram todo ano em família.

Um destaque negativo nesse ponto é que a importância na história de alguns personagens é rasa e limitada, por exemplo o passado de Úrsula e a relevância das irmãs de Ariel. Onde o tema é apresentado com potencial relevância, mas encerra em algumas linhas de texto e/ou crítica social decorada. Não é apresentado algo a mais que faça aquele contexto ser realmente necessário.

ELENCO

Estrelado por Halley Bailey (Laura Castro na dublagem Brasileira), a nova versão da personagem parece ter sido escrito especialmente para a própria atriz, pois Halle demonstra estar muito à vontade na personagem, principalmente com as canções, e isso fica ainda mais evidente na segunda metade do filme. Onde mesmo com poucas falas, as emoções da personagem são evidentes.

Entre o elenco, os personagens principais se destacam em seus personagens de forma semelhante. Daveed Diggs rouba a cena como Sebastião (Yuri Chesman), Awkwafina como Sabidão (Priscilla Concepcion) é o alívio cômico ideal e equilibrado. Mas o forte do filme está com Melissa McCarthy (Andrezza Massei) e sua interpretação de Úrsula. Seja em sua semelhança com a animação ou então em sua própria identidade para a mesma, todo momento que temos a vilã em cena é garantia de diversão. Ao mais atentos podem notar uma participação especial no filme.

 

Em contrapartida, temos um Rei Tritão completamente automático e inexpressivo. Mesmo com poucas cenas, Javier Bardem entrega um personagem que se limita a um animatrônico de movimentar os braços e repetir as falas da animação. Assim como as irmãs de Ariel que mal tem tempo em cena para que possamos nos apegar e conhecê-las.

MÚSICA

Falando da trilha sonora, Alan Menken retorna na composição e desta vez em parceria com Lin-Manuel Miranda. Trazendo as clássicas canções de volta com algumas leves alterações no arranjo ou na letra, com exceção de três (Daughters of Triton, Les Poissons e Happy Ending), o filme também apresenta quatro novos números musicais que, dentro da nova proposta, complementam o enriquecimento da história. Entre as canções temos Wild Uncharted Hearts, interpretada por Eric, For the First Time e uma segunda reprise de Part of Your World para Ariel e Sabidão também tem um número para chamar de seu em The Scuttlebutt. Entre as novas canções, uma que é necessária para entendermos as motivações do personagem é apresentada de forma apressada. Principalmente por ser uma música mais “calma”, que vem logo em seguida da dinâmica de Under the Sea, deu a sensação de não ter o peso que realmente tem.

REMAKE X ORIGINAL

Assim como aconteceu nas adaptações de Aladdin e A Bela e a Fera, podemos esperar uma nova versão fiel ao produto original, mas com algumas atualizações na história. Como se o estúdio se preocupasse em responder a questões feitas sobre a animação original ao longo dos anos.

Tentando se distanciar da opinião pública de que “a sereia virou humana por causa de homem”, a produção apresentou mais motivações e momentos para a protagonista. Com isso, em muitos momentos importantes do filme vemos Ariel em ação, porém o roteiro consegue aplicar essas mudanças de forma natural dentro do contexto, trazendo não só uma princesa, como também uma heroína.

Uma novidade do filme que se conecta tanto com o plot do príncipe na ficção quanto a diversidade do elenco na vida real é a diferença cultural apresentada. Nos mares temos navios com referências de diversas regiões (em esculturas e objetos por exemplo) o elenco de sereias que vem de todos os cantos do mundo. Na superfície o reino se torna multicultural, trazendo referências europeias, latinas e africanas de forma tão natural, viva e colorida que merece esse destaque. Seja pelo elenco, a trilha sonora, as danças ou tecidos, tudo ali remete a alguma região. Assistindo legendado isso se torna mais evidente.

VISUAL

Quando saiu o primeiro teaser do filme, muita gente estranhou a ambientação por acharem “sombrio e apagado demais” e mesmo com os trailers seguintes mostrando mais detalhes ainda continuavam apontando essa situação. Mesmo não sendo do mesmo estúdio era inevitável não comparar com Aquaman (2018) por apresentar um fundo do mar vivo e iluminado. Mas diferente da divulgação, o filme em si teve uma boa evolução nesse aspecto e deve agradar o público em sua maioria. Assim como na animação ainda teremos cenários escuros, mas apresentados de forma visível e colorida, onde até mesmo a cena inicial com o tubarão não peca nesse quesito.

Primeiro teaser (À DIREITA) e segunda teaser (À ESQUERDA)

Durante o filme é onde vemos todo o potencial da produção, apresentando um fundo do mar vivo, vibrante e colorido, onde até cenários escuros tem seu charme. Dois momentos que vale destacar nesse assunto é a cena de Under the Sea, na qual a cena mostra vários ambientes do mar aberto a cavernas, onde dança e movimentos foram feitos com total atenção que a tornam a cena mais rica e divertida do filme. E segundo temos toda a cena da caverna da vilã em Poor Unfortunate Souls, que apresenta uma dinâmica semelhante a cena de Shiny em Moana, ambiente escuro com objetos brilhantes que dão a imersão necessária para o contexto da cena.

Um detalhe negativo é que, assim como vários “problemas” vistos no material de divulgação foram corrigidos até o lançamento, alguns ainda são notáveis no filme, como o corpo em movimento com um rosto estático, parte da batalha final ou então mudanças drásticas de tomadas que atrapalha de ver personagens por completo, como acontece com as irmãs de Ariel e também com a vilã. Se é uma forma de amenizar os potenciais problemas, acaba se tornando incômodo ao longo da exibição.

VALE A PENA ASSISTIR?

A Pequena Sereia se tornou uma história e uma personagem querida pelo público ao longo dos anos e sua importância para quem acompanha garante que esse seja um filme para todos. É romance no ponto certo, musical na medida e aventura para a família conferir e rever. Até para quem não entendeu ou estranhou as decisões do estúdio de início pode sair satisfeito.

Mas em pleno 2023 ainda somos obrigados a ver atitudes repulsivas como racismo e esse filme se torna um exemplo de como as pessoas podem ser más através de suas opiniões. Se considerar as versões da série Once Upon a Time e do especial de TV com Auliʻi Cravalho, essa é a terceira adaptação em live action da sereia que se apaixonou por um humano. É justo considerar uma nova versão para não ser mais do mesmo (como reclamaram de O Rei Leão) e conferir o filme antes de somente repetir comentários. A proposta do filme se mantém fiel à essência do original e, como um todo, merece ser visto.

A Pequena Sereia estreia dia 25 de maio nos cinemas brasileiros.

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