Musicais que seriam aclamados hoje, mas que foram fracassos de bilheteria 

Paul Kolnik/Lyceum Theatre

Nossa sociedade está sempre em constante mudança, seja em relação a regras, valores, costumes, pensamentos. E com os nossos gostos não seria diferente. De tempos em tempos surgem produtos diferentes para os padrões da época e que, por isso, levantarão muitos debates.

Esses fenômenos podem ser percebidos em filmes como “Blade Runner”; “The Rock Horror Picture Show”; “Scott Pilgrim Vs o Mundo” e “Um Sonho de Liberdade”, que são um sucesso “cult” atualmente, mas que, na época em que foram lançados, tiveram uma péssima avaliação e bilheteria.

No mundo do Teatro Musical não seria diferente, por isso analisaremos aqui algumas obras, que se fossem lançadas atualmente seriam grandes sucessos, mas devido à época não tiveram sua devida aclamação.

The Scottsboro Boys (2010/John Kander, Fredd Ebb e David Thompson)

Um musical sobre um famoso julgamento americano que injustamente condenou jovens negros. O musical trás uma crítica social potente e ainda carrega um elenco de peso, com atores negros incríveis como: Colman Domingo (Chicago, Passing Strange) e Joshua Henry (Into The Woods, Waitress)? Você deve estar se perguntando se esse musical existiu, e a resposta é um grande sim, ele existiu e se chama “The Scottboro Kids”. 

Criado por David Thompson, com música de John Kander e letra de Fred Ebb, The Scottboro Kids conta a história real de nove adolescentes negros com idades entre 12 e 19 anos que, em 1931, foram acusados ​​de estuprar duas mulheres brancas em um trem de carga que viajava pelo sul dos Estados Unidos. O caso contra os adolescentes era extremamente frágil e uma das supostas vítimas acabou se retratando. 

Na época em que foi lançado, o musical não chamou atenção. Recebeu críticas mistas e diversos protestos sobre os “Números de Menestréis” que tinham na peça, que brincavam justamente com o pensamento de que as pessoas só prestam atenção em histórias negras quando elas veem em forma de piada ou espetáculo. Ele foi indicado ao Tony, mas não ganhou nenhum e teve somente 78 apresentações.

Acredito que se esse musical fosse lançado hoje, com as discussões atuais sobre racismo e as políticas carcerárias raciais e o movimentos como o “Black Live Matters” , “The Scottboro Kids”, teria outra visão e reconhecimento.

Grande (1996/David Shire, Richard Maltby e John Weidman)

Um musical sobre o filme “Quero Ser Grande” do Tom Hanks? Sim, isso também existiu e parece algo que totalmente faria muito sucesso na Broadway, mas não foi o caso.

A excelente equipe de roteiristas de David Shire (Miss Saigon), Richard Maltby e John Weidman (Assassinos, Everthing Goes), criou um espetáculo que captura perfeitamente a divertida da transformação da noite para o dia de Josh Baskin, de 12 anos, em um adulto, e as dificuldades que vem com essa mudança, porém, o público na época simplesmente não deu atenção.

Como o filme era muito querido, a crítica ficou dividida em 2 times: uma parte se apegou à nostalgia e ao saudosismo, já a outra não aceitou a proposta e foi mais severa. O tema era estranho para época , o que também pode ter prejudicado a conexão do público com a obra.

De qualquer forma o musical teve uma pequena turnê de sucesso, foi indicado ao Tony, não levou nenhuma estatueta para casa e nunca mais tocou.

Com musicais recentes, temas mais “fora do comum” como “Be More Chill”, “Urinetown” e “Book of Mormon”, creio que “Big” seria um sucesso de bilheteria e crítica devido a sua história leve e inocente.

Corcunda de Notre Dame (1999/Alan Menken e Stephen Schwartz)

De todos os musicais do nosso querido rato Mickey, “Corcunda de Notre Dame” seria o mais fácil de se adaptar para o Teatro Musical. Não existe mágica, animais falantes, poderes… ok, tem as gárgulas falantes, mas a gente releva isso.

A obra tem todos os ingredientes que um musical de sucesso precisa:

  • Músicas bem feitas (Até hoje tremo ouvindo os “Portões de Notre Dame”)
  • Personagens carismáticos
  • Uma história envolvente

A Disney também percebeu isso e decidiu fazer um musical do filme, mas antes vendeu para o Berlin Theatre para testar e foi um relativo sucesso de crítica e público, mesmo tendo sido encerrado em pouco tempo. 

Os compositores Alan Menken e Stephen Schwartz (sim, o de Wicked), anunciaram em 2013 que estavam planejando uma adaptação inglesa de Corcunda de Notre Dame. Foram realizadas diversas oficinas, e devido a diversos problemas legais o musical sequer chegou perto da Broadway –  o que é uma pena, pois jamais veremos Patrick Paige arrasar como Frollo em grande estilo.

Com toda certeza Corcunda de Notre Dame seria um sucesso para o público atual, o fandom criado devido as pessoas que assistiram ao filme na infância, somado com os fãs de musicais mais sombrios, daria não só uma ótima bilheteria, como reanimaria o amor dos fãs pelos musicais da Disney – o que, cá pra nós, só está sendo segurado por Rei Leão na Broadway.

O que podemos perceber é que às vezes uma ideia pode até ser a certa, mas o tempo ainda não é o certo. Isso não significa que devemos desistir, a arte tem esse poder de renovação e metamorfose.

Obras sempre precisam ser revistas e recriadas, e não só pelo amor à arte, mas pela necessidade de repensar ideias. No entanto, cabe uma reflexão: Será que compensa contarmos as mesmas histórias ou contar novas?

Ideias novas sempre irão surgir e remakes continuarão sendo feitos, mas no final do dia qual lado está certo? O dos criadores originais ou o dos adaptadores de obras antigas? Isso só o tempo irá dizer, porém, enquanto isso não chega, só nos resta sentar e assistir as belíssimas obras que eles trazem para nós. 


Créditos do texto:


Autoria
Marcos Paulo

Edição
Brígida Rodrigues

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