Vai ter trans e travesti no Bibi Ferreira, sim!

Pela primeira vez três atrizes trans concorrem em categorias individuais no Prêmio Bibi Ferreira. A premiação, considerada como a maior e mais importante para a classe de Teatro Musical no Brasil, existe há 10 anos e já consagrou grandes nomes da área, montagens de musicais internacionais e espetáculos originais brasileiros.

Verónica Valentino, Marina Mathey (ambas de “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”) e Diva Menner (“Barnum – o Rei do Show”) concorrem juntas na categoria “Revelação em Musicais”. Verónica também concorre na categoria “Melhor Atriz” e Marina em “Melhor Atriz Coadjuvante”. 

Foto por Alê Catan

Se compararmos com o nosso queridinho Tony Awards, que ocorre desde 1959 nas terras norte-americanas, este ano foi a primeira vez que uma artista trans foi indicada à melhor atriz coadjuvante (L Morgan Lee, por “A Strange Loop”). A primeira vez, em 63 anos de premiação.

A importância dessas indicações é imensurável. Pela primeira vez estamos vendo no nosso país (que mais mata pessoas trans no mundo) três atrizes trans alcançando espaços que outrora foram ocupados por somente pessoas cis. E esse fato ocorre porque estamos falando de três palavras que há muito fazem falta no nosso Teatro Musical: representatividade, oportunidade e proporcionalidade.

Já discutidos a falta de representatividade que personagens trans sofrem em musicais. São pouquíssimas as personagens e narrativas que abarcam a comunidade T, e quando essas histórias existem, costumam ser conduzidas por atores/atrizes cisgênero. Quando o Núcleo Experimental apresenta “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” estamos mudando o curso de nossa história. Um espetáculo que conta a história de não uma, nem duas, mas de SEIS travestis. Sua luta, seus sonhos, seu passado, presente e futuro, são representados por atrizes trans que brilhantemente emocionam cada pessoa que assiste àquela peça (não à toa “Brenda” concorre também nas categorias “Melhor Musical Brasileiro”, “Melhor Musical” e “Melhor Texto” de Fernanda Maia).

Quando falamos sobre oportunidade, como a que Diva Menner recebeu ao interpretar Joice Heth em “Barnum – o Rei do Show”, estamos focando em o que separa artistas brancos/cis de outres artistas. Espero que as grandes e pequenas produções de Teatro Musical no Brasil estejam prestando atenção à essas mudanças, e mais do que nunca, começando a entender a importância e relevância que possuem quando têm o poder de escolha em suas mãos.

É através de oportunidade e representatividade que começamos a alcançar proporcionalidade. 

Ainda há muito que ser feito. Muitas histórias para serem contadas quando tratamos de minorias. Muitas narrativas apagadas que precisam ser relembradas. A comunidade trans sempre esteve aqui, nós é que não estávamos dando atenção.

Mas 2022 vem mudando isso. 

Dia 21 de setembro veremos três atrizes trans caminhando pelo saguão do Prêmio Bibi Ferreira, ocupando assentos, recebendo aplausos e possivelmente prêmios no palco.

E é só o começo.

Foto por Alê Catan

Guilherme Gila

Gila aqui! Apaixonado por música e teatro desde que me conheço por gente (e por músico e ator também hehe). É fácil me fazer falar, difícil é me fazer parar. Um prazer!

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