Compositor: Se Essa Lua Fosse Minha
Estávamos na praça de alimentação do Shopping Frei Caneca. Pegamos algum lanche no Mac e fomos sentar. Eu, Lola Fanucchi e Vitor Rocha. Nosso primeiro musical juntos, Casusbelli, teve apenas algumas leituras abertas. Considerávamos correr atrás para tirar o espetáculo do papel, mas no fim não aconteceu.
Uns minutos são gastos em conversa fora, batata frita, fofocas e de repente, vem o clássico “Então… qual vai ser o próximo projeto?”. Em seguida, Vitor começa a contar alguns dos seus roteiros que ele tem engavetado. Eram mais de 4, sem dúvida, e um deles era o Se Essa Lua Fosse Minha.
Percebemos que esse roteiro era o que tinha a história “mais pronta” e que era “só” sentar, elaborar, conceber e realizar. Pronto! O brilho acende os olhos e fechamos que esse era o próximo projeto. Definiu-se datas de ensaio, estréia e seguimos pro nosso processo criativo.
Basicamente é: se encontrar na casa de alguém, pegar a pipoca e a cerveja, post-its nas paredes e escaletar a história.
Escaletar, ou seja, montar e definir a seqüência de eventos essenciais da trama, é extremamente importante pro compositor pois é o momento ideal para enxergar onde na narrativa que estão os números musicais.
Conforme as ideias vêm, personagens nascem, caem, fica claro onde tem musica ou não, o roteiro fica mais amarrado, etc… Tudo com post-its e rascunhos de papel à lápis.
A cada passo dado começamos a ficar mais empolgados com a obra e acreditar que vai dar certo. Esse entusiasmo, eu diria, é muitas vezes a chave pro projeto de fato sair do papel. Vitor e eu somos procrastinadores, porém nós já tínhamos datas de ensaio e estréia, então não tínhamos o luxo de tomar nosso tempo e “esperar a inspiração”.
No Se Essa Lua eu cheguei a fazer algumas letras, mas num geral, é comum o dramaturgo encarregado do texto assumir as letras por completo.
Quando a letra é entregue pronta e estruturada, o processo de compor é absurdamente mais fácil e rápido. Conforme você vai experimentando algumas progressões harmônicas e testando melodias, ao cantarolar a letra pronta, você vai entendendo o que é coerente para aquele música. O que funciona e não funciona.
Música é muito mais ambíguo e sensorial do que texto/letra e isso deixa o trabalho do compositor muito menos exigente à especificidade que o do letrista.
Estávamos a poucos dias do primeiro dia de ensaio. Apesar do estresse e correria, mais e mais musicas foram ficando prontas com quase nenhuma precisando ser cortada ou ajustada. Muitas vezes, a gente só trocava áudios e emails, pois nem sempre dava pra se encontrar pessoalmente e tempo era apertado.
Enfim! Começamos os ensaios com os atores faltando só a música final (Lá Vai Você). Mas tirando esse atraso, o processo do Se Essa Lua foi, ao nosso ver, um grande sucesso. Foi necessários virar noites? Sim, muitas. Mas no fim das contas, valeu a pena.
(Deixo meu agradecimento aos demais criativos Victoria Ariante, Lenita Ponce, Beto Venceslau e todo o nosso elenco.)
Concebido em menos de 20 dias e levantado com 14 encontros/ensaios, Se Essa Lua acabou tendo um temporada de grande sucesso no Teatro do Núcleo Experimental e ganhou um Bibi Ferreira por melhor música e letra.
2 garotos que decidiram, despretensiosamente, aprender a escrever seus musicais.
Papel, lápis, tocar umas cifras/acordes no piano e caçando boas ideias.
Se eu tivesse que dizer umas palavras inspiradoras e francas sobre teatro musical e a concepção dramatúrgica desse gênero é: existe sim uma fórmula. Uma ciência. Uma lógica. Aprenda-a.
Todo bom criativo que eu trabalhei sempre adotou a responsabilidade de diagnosticar a todo momento a eficiência de cada elemento artístico do seu projeto e não descansava até se orgulhar do que criou. Todo bom criativo precisa ter referências para se inspirar e para achar soluções pros infinitos desafios que existem ao levantar/conceber um espetáculo de qualidade.
Mas o mais importante: VÁ FAZER O SEU MUSICAL! Agora!
Não deixe pra amanhã. Eu sei que você tem ideias e vontades.
Escreva os diálogos/cenas empolgantes que aparecerem na sua cabeça, anote o que seria legal se acontecesse na sua historia, salve uma playlist de referência para montar suas musicas, aprenda as harmonias dessas canções…. e na dúvida, vá pela regra de ouro, faça a peça que você gostaria de assistir.
Estamos num país onde sempre foi e sempre será difícil fazer teatro e o meio dos musicais é repleto de concorrência para artistas que querem brilhar nos palcos, mas se tem uma coisa que está em falta e precisamos urgentemente: é de dramaturgos/compositores ambiciosos e destemidos que vāo lá e levantam seus projetos.
Escreva e protagonize seu Musical! Você tem 30 dias…
1… 2… 3… e…Valendo!
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