Entrevista com Leonardo Bertholini, diretor de movimento e codiretor artístico do musical “Isso que é Amor”

Em turnê pelo o Brasil desde setembro de 2019 e fazendo uma última parada no Rio de Janeiro até dia 16 de fevereiro, “Isso que é Amor” traz para os palcos as músicas de Luan Santana – e para o teatro, seus fãs. Na peça, que está em cartaz no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, Gabriel Lucas é um jovem músico que se apaixona por uma mulher em seus sonhos. Com essa premissa, inicia-se uma jornada de autodescoberta criativa de Gabriel e sua relação com sua família, amigos, fãs e um possível amor. 

A Broadway Meme teve a honra de visitar os bastidores do musical e, entre passagens de som e preparações para mais uma noite de apresentação, pudemos ver de pertinho a rotina do elenco e da direção. Além de, é claro, conversar com uma parte do elenco e da equipe de produção. A entrevista se divide em duas e, nessa primeira parte, a gente mostra como foi nossa conversa com Leonardo Bertholini, o diretor de movimento e codiretor artístico do espetáculo. Confira a seguir!

BROADWAY MEME: Além do “Cássia Eller – O Musical”, que estreou em 2014 e teve várias temporadas em todo o Brasil, que foi realizado pela Turbilhão de Ideias, de uns anos para cá vimos vários musicais com histórias originais que usam o trabalho de artistas brasileiros conhecidos como trilha sonora. Alguns exemplos são “Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte”, “Meu Destino é Ser Star” com músicas do Lulu Santos e mais recentemente “Brilha La Luna” com as músicas do Rouge. Como você acha que esses tipos de produção ajudam a fomentar o meio do teatro musical?

Leonardo Bertholini: É quase um outro formato de trabalhar que tem acontecido nos musicais brasileiros, tanto de trabalhar com a biografia de alguns artistas, quanto de trabalhar o que a música inspira, como é o nosso caso. As histórias que contam as músicas do Luan Santana inspiraram a nossa história, que Rosane Lima escreveu. Há uma busca hoje, incessante, para gente poder trazer mais público para o teatro e é importante que as pessoas venham, valorizem e consigam entender que o teatro tem um entretenimento tão bacana quanto um filme, porque têm pessoas que ainda possuem alguma resistência contra o teatro. E então acho que isso [usar músicas de artistas conhecidos] é uma forma de facilitar porque as pessoas já vão ter uma referência dessa obra.

No nosso caso, que temos o público super jovem do Luan, é justamente isso. Não queríamos que essa galera achasse chato, queríamos que gostassem também, que fosse divertido. Mesmo que tenha a linguagem teatral, que tenha encenação que é algo que não abrimos mão, porque não queríamos fazer um espetáculo que fosse só fácil, só entretenimento. A gente queria fazer uma coisa que tivesse qualidade artística. Por exemplo, para chegar aos 15 atores desse elenco, a gente fez uma seleção com mais de 800 candidatos, porque ter um elenco super jovem era muito importante para gente, porque queríamos que o público que gosta do trabalho do Luan viesse assistir a nossa produção. Afinal, estamos trabalhando com a obra de um artista que, diferente da Cássia Eller, Cazuza, tá na crista da onda, e é super jovem também. 

E quando começamos a conversar e se aproximar do Luan, o Ulysses Cruz, nosso diretor artístico, já tinha uma relação grande com ele, porque eles trabalharam juntos em programas de TV e também no Criança Esperança. Isso possibilitou uma aproximação muito boa, com a oportunidade de conversar com ele e com o escritório dele sobre o que a gente estava fazendo. Queríamos muito que ele tivesse vindo aos ensaios, mas foi tudo muito rápido e ele só conseguiu vir depois da nossa estreia, em São Paulo. 

Mas nossa relação com ele sempre foi de muito diálogo, ele inclusive leu tudo antes, sabe? E a gente tem também o pessoal do fã-clube dele sempre dando apoio. A Yara Dias, por exemplo, é presidente de um dos mais importantes fã-clubes do Luan e ela assistia sempre aos ensaios e dava dicas, como “Isso poderia ser assim” ou “Ah, eu acho que as fãs do Luan não são assim desse jeito”. Isso é muito importante porque os fãs também são personagens na peça, é uma voz da dramaturgia, e a representação deles fica no limite entre algo que seja próximo das fãs dele, mas que também seja teatral, porque queríamos focar em uma coisa criada também. É para vir, sentar, se divertir e ver um mundo criado, então acaba que fica nesse limítrofe entre o que é real e o que é construído. 

BM: Falando de fã, uma coisa bem legal desde o início da produção foi a escolha dos protagonistas, porque foi algo muito aberto, com o próprio público votando para escolher quem eles queriam ver como protagonista. Como foi isso? 

LB: Teve tanta gente boa que encontramos [durante as audições], tantos jovem diferentes porque não queríamos as grandes estrelas dos musicais, queríamos a galera nova. O Daniel Haidar (Gabriel Lucas) mesmo, ele está fazendo o primeiro protagonista e acho que é o segundo ou terceiro musical dele profissional. Ele tá muito no início da carreira e pegou um papel desse tamanho e era exatamente que a queríamos. A gente tinha tantas opções maravilhosas que pensamos que dava para envolver o público na decisão, na escolha dos dois protagonistas.

BM: De onde veio a ideia de desenvolver um musical ao som de Luan Santana? A “Isso que é amor” foi um ponto de partida?

LB: A música “Isso que é amor”  não foi totalmente um ponto de partida, foi mais a ideia que traz. A gente queria falar sobre várias formas de amor, sobre amor de fã para o ídolo, o amor entre irmãos, o amor de um menino apaixonado por outra menina, uma amor fraternal de amigos, várias formas de amor. E essa música inspirou sim a dramaturgia. 

BM: As músicas com que o espetáculo trabalha estão bastante presentes no cotidiano, nas rádios, mas ganham um contexto bastante diferente ao serem transportadas para uma peça musical. Como foi para a equipe dialogar as músicas e a história de uma forma orgânica?

LB: É até engraçado, porque tem momentos que a gente fica até pensando “Nossa, tá encaixando tanto, né?!” . Quem pensou na história primeiro, no argumento, foi o Gustavo Nunes (Idealizador e Diretor de Produção) e, depois, a nossa dramaturga Rosane Lima entrou com a experiência dela em escrever para desenvolver esse roteiro. Ela que teve todo esse trabalho de ficar meses quebrando a cabeça para encaixar as músicas na história, para que não ficasse uma coisa forçada, de uma música que entrou naquela cena porque tinha que entrar. As músicas na peça entraram porque era o que a história pedia e, para isso, a gente tem que tirar o chapéu pra Rosane. Depois a gente da direção tinha que amaciar isso para os atores conseguirem fazer isso de forma natural, que mostrasse verdade. 

BM: Um ponto que chama a atenção no espetáculo é como a coreografia abraça vários elementos da linguagem de sinais, uma proposta bastante inovadora que não se encontra em muitas outras produções. Como surgiu essa ideia e como foi o trabalho e desenvolvimento da coreografia, e qual você considera ser a importância dessa iniciativa?

LB: Quem criou isso foi o próprio Daniel, o próprio ator. Eu tenho formação em dança, mas trabalho sempre com atores, preparando e fazendo direção de movimento e, assim, trabalho muito com a ideia de construir juntos, criar um espaço para que o ator possa criar também. Na peça, muitas coisas foram criadas por mim e algumas coisas também foram feitas pelos atores e foram muito bem-vindas. Bem no final da peça, onde quase não tem movimento, eu e o Ulysses tínhamos uma ideia, queríamos que fosse algo fechando a cena, que ela fosse sumindo, quase como se estivesse ‘apagando’ o espetáculo. E, aí o Daniel trouxe essa ideia de usar a linguagem de sinais nessa parte final. 

BM: Qual é o impacto que vocês esperam que os espectadores tenham, qual mensagem esperam que levem para casa do musical?

LB: Acho que a primeira coisa que esse musical fala é o amor. Hoje em dia, no momento que a gente vive, é muito importante falar de amor, de empatia, de ver o outro com mais carinho, de uma forma mais horizontal. Então a gente pensava muito isso, no porquê estarmos fazendo esse musical nesse momento, o que essa história tem de relevância para hoje, já que como artistas, sempre queremos trazer alguma reflexão. É um entretenimento, claro, é um espetáculo feito para que as pessoas gostem, mas queríamos que tivesse uma mensagem e a mensagem que a gente acha que é muito importante e que é pano de fundo de todas as músicas do Luan é o amor. 

LB: Não só o amor romântico, entre um menino e uma menina, dois meninos ou duas meninas, mas também o amor fraternal, entre as pessoas, de perceber, de poder conhecer o outro de forma legítima. O espetáculo é feito por personagens, em sua grande maioria jovens, que estão procurando se relacionar. Tão procurando achar o amor dentro deles. A crise da Leona, por exemplo, é em relação ao amor, a mãe da Leona tem um conflito em relação ao amor, o Gabriel Lucas é nosso astro pop adolescente e também tem uma questão em relação ao amor, a Deise, também tem problemas em relação a isso. Era sobre isso que a gente queria falar. Queríamos tocar as pessoas não só pela comédia, por fazer rir, mas também por fazer refletir sobre esse tema tão importante hoje, que é poder ver as pessoas mais, poder ter uma amor fraternal mais entre a gente.

BM: Uma pergunta mais técnica e nem tão relacionada com o espetáculo: qual a diferença entre diretor de movimento e o coreógrafo, existe uma diferença?

LB: Ai, obrigada por essa pergunta! Existe sim uma diferença. Existe uma forma como a gente pensa coreografia que vem desde a década de 70 e que os musicais acolheram muito que é de uma coreografia sempre ligada à música. Uma sequência de movimentos que são marcadas pela música e que normalmente a música chega primeiro e depois o coreógrafo desenvolve. Havia um modelo de um tempo atrás que era o coreógrafo desenvolvia tudo sozinho, numa sala, com um assistente, toda movimentação e depois passava para os bailarinos. 

A direção de movimento ela traz o diretor de movimento como um profissional da equipe que também conta a história. Então, o movimento quer ser muito mais um movimento dramatúrgico, que conte uma história, do que um movimento dançado. É isso que eu venho batalhando nos musicais, batalhando nos espetáculos que tenho feito, que é: Como contar a história através de movimentos? Se a gente tirasse a fala agora e contasse a história, como ficaria? 

A diferença é sutil, mas ela existe. É diferente de bailarinos porque são atores e eles precisam de uma outra forma de trabalhar movimento. Eu tenho trabalhado com muitos atores, preparando pessoas como a Gabriela Duarte, Thiago Fragoso, Caco Ciocler e também tenho preparado muito gente pro teatro, sempre com a direção de movimento. E essa direção sendo específica para os atores é legal porque a gente pode fazer alguns atores até dançarem, fazerem partituras de corpo super complicadas, com artistas que não tem formação de balé.

SERVIÇO:

Isso que é Amor

Local: Teatro Clara Nunes – Shopping da Gávea (Rua Marques de São Vicente, 52 – Gávea, RJ)

Data: Até 16 de fevereiro

Horários: Quinta 20h, sexta e sábado 21h, domingo 20h

Ingressos: bit.ly/IQEARioDeJaneiro

A entrevista foi realizada pelos membros da nossa equipe Clara Brandão e Fernando Macedo, que foram recebidos pela equipe e elenco do musical “Isso que é Amor”, no Teatro Clara Nunes.

Dan Moura

Olá, meu nome é Daniel Moura, mas todo mundo me chama de Dan. Tenho 32 anos, e 10 anos atrás eu criei a Broadway Meme com o intuito de espalhar a palavra do teatro musical no Brasil.

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