a gente sai de casa,
enfrenta trânsito,
paga ingresso,
sedenta por teatro
e precisa encarar
algo ruim.
ué, a peça não foi boa?
ela foi maravilhosa!
o pesadelo foi outro.
pra mim,
plateia desrespeitosa
é o pior espetáculo
da face da terra.
atrás da minha poltrona,
duas pessoas fizeram um show de horror que ninguém tava ali pra ver:
conversaram o tempo todo e fizeram tanto barulho com suas sacolas que me senti ouvindo aqueles efeitos especiais de raios e trovões de filme, sabe?
a moça da produção colocou duas vezes a lanterna acesa pra avisar e elas continuaram.
eu olhei pra trás com aquela cara que implora:
por favor, para!
nada adiantou.
sei que não controlamos
o comportamento do outro, apenas o nosso.
mas não gosto de sentir que a presença desrespeitosa
tem aumentado nos teatros.
não sei dizer se as pessoas se acostumaram ao combo sofá + streaming + ifood e desaprenderam que, num ambiente com um monte de gente, é preciso se comportar diferente.
ou se é só falta de educação mesmo.
dizem que a gente só respeita o que aprendeu a respeitar, né?
ninguém acha ok atrapalhar a concentração de um médico no meio de uma cirurgia. e muitos acham que tudo bem tumultuar a aula de um professor ou a peça onde um artista se apresenta.
não consigo dimensionar o que sente ator em cena ao ver uma luz com alguém aceitando uma chamada de vídeo no celular no meio de um musical.
uma plateia que perturba, transtorna e avacalha o trabalho de uns e o lazer de outros é um fracasso que atrapalha a vida de todos. ela rouba parte de uma experiência que poderia ser mais positiva.
plateia não é nem pode ser robô, tá?
teatro é um lugar pra todo mundo poder ir pra rir e se emocionar.
só escrevo pra aliviar um pouco do ranço que ando sentindo.
não tenho problema com espetáculo ruim.
com plateia desrespeitosa,
tenho sim.
entre o segundo e o terceiro sinal de qualquer peça, peço em silêncio:
teatro, preencha esse lugar com gente que quer ver e ouvir uma boa história.
nem sempre dá certo.
mas a minha vó dizia
que rezar ajuda.
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