BM entrevista – O Alienista: No meio da loucura

Foto por @leticiacronerfotografia

O Alienista é uma das obras literárias brasileiras de maior renome, com adaptações diversas, em: literatura de quadrinhos, tendo três versões feitas por Lailson de Holanda Cavalcanti, Cesar Lobo e Antonio Aguiar, Fábio Moon e Gabriel Rã, o filme de 1970 “Azyllo Muito Louco”, a série estrelada por Selton Mello ainda em produção, e a recente peça teatral em formato de monólogo com Gustavo Ottoni. Mas a montagem da UNIRIO inova ao apresentar em formato musical.

Com cenários e maquiagens dignos das páginas de livro vivo e um espírito circense bem presente, a peça traz novos ares para essa história tão conhecida, apesar das falas seguirem fielmente o texto da obra original.

A história acompanha Simão Bacamarte, um importante acadêmico nas áreas de psicologia e estudos cognitivos, que tem, depois de observar pessoas consideradas insanas na cidade de Itaguaí, a ideia de criar uma casa de tratamento financiada pela população para realizar seus estudos científicos, chamada Casa Verde. Apesar da obra ter roteiro transliterado diretamente do texto de Machado de Assis, a montagem inclui mais dois personagens, âncoras dos eventos: o próprio Machado de Assis e Sigmund Freud, que agem como narradores observadores e um alívio cômico sublime. 

A BM entrevistou o ator Tiago Batistone, que interpreta o Doutor Bacamarte, sobre o processo de adaptação:

BM: Em textos clássicos, há um esforço de atualizá-los, de alguma forma, para um público novo. Como foi esse processo?

Tiago Baristone: “Então, o diretor, Rubens Lima Jr., é já um grande estudioso de literatura e roteiro, e ele partiu do texto original mesmo, tanto que se perceber, na peça nós falamos as exatas palavras do texto original, se for acompanhar. A grande sacada dele (diretor) foi adicionar o Freud na mistura, que conversa com Machado, é quase um caso clínico de quem é Bacamarte, então acho que tem um frescor muito legal nessa história que é super contemporânea. Eu nem chamaria de texto antigo.

BM: Como foi o processo de criação do personagem do Simão Bacamarte?

Tiago Baristone: Estou nesse processo desde 2019, pois a peça iria acontecer em 2020, mas teve que ser adiada. Ele (o processo) foi um mergulho no texto, de entender qual era a psiquia desse personagem, por que ele tinha tanto interesse na loucura, e onde morava esse lugar da obsessão e onde morava o lugar do poder. Teve um trabalho também muito assíduo de corpo, de trejeitos, enfim.

Esse trabalho de corpo foi bem aparente quando assisti, a interpretação dos personagens sendo tão individuais de cada personagem, e todas igualmente fenomenais. Utilizando técnicas da palhaçaria, a quebra dos personagens de suas caricaturas dava um peso enorme às suas ações sublimes mas de impacto muito simbólico, como o gesto que é marcado na peça do Dr. Bacamarte “convidando” as pessoas da cidade para a Casa Verde. 

Foto por @leticiacronerfotografia

Esse musical com certeza se tornou um clássico atual, uma adaptação tão fiel que verbera em discussões ainda presentes hoje em dia, principalmente com o clima surrealista que estamos vivendo. Ao mesmo tempo, pode ser vista como uma celebração do teatro, exaltando todos os elementos que tornam essa arte única e eterna, essa loucura fantástica. Nesse caso, então que viva a loucura!

BM

Autor: Alex Menajovisk
Edição e revisão: Brígida Rodrigues

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