BM entrevista: Fernanda Maia e o seu trabalho como diretora musical e versionista em Sweeney Todd

Foto: Stephan Solomon

A BM conversa com a dramaturga, roteirista, versionista, diretora musical e artística Fernanda Maia, que teve como mais recente sucesso o musical Sweeney Todd.

BM: Qual o maior desafio em trazer um espetáculo de Sondheim para o Brasil?

FERNANDA: Tempo. A gente sabe que o musical é uma forma de arte muito cara, então pra ele ser viável ele precisa acontecer num tempo condensado… mas eu sinto que o Sondheim exige da gente um pouco mais de tempo, pra que as coisas se assentem. Ele precisa ser entendido de uma maneira muito profunda, e esse entendimento leva tempo, um tempo maior do que a gente tá acostumado com musicais.

BM: Como foi o processo de versionar Sweeney Todd?

FERNANDA: É uma relação maluca em que você xinga e se encanta com ele o tempo todo. Antes de tudo, é um grande estudo… eu sinto como se tivesse feito uma pós-graduação estudando essa obra. Nesse processo de versionar as vezes você precisa fazer opções por sentido… às vezes precisa entender o que ele quer mais: sentido ou sonoridade? Pois muitas vezes é sonoridade. É um desafio tremendo, eu tive que fazer gráficos de rimas usando lápis-de-cor. Às vezes dentro da mesma canção tem mais de 35 rimas diferentes. Então tive que ir percebendo as várias camadas, e infelizmente eu sinto que versionar essa peça (e não só em português, mas em qualquer idioma) é fazer um pálido reflexo do que ela realmente é. O que ele realmente escreveu é tão profundo, tem tantas camadas e sonoridades, que não são totalmente reproduzíveis em outras línguas. É uma coisa que quanto mais você estuda a obra dele, mais você entende as escolhas. É um trabalho muito grande. 

BM: O espaço cênico da peça foi construído de forma que a plateia seja imersiva. Como isso ocorreu com a orquestra e a sonorização da peça?

FERNANDA: A sonorização é uma coisa muito difícil. Primeiro porque é uma música escrita para 25 músicos mas que pode ser tocada com no mínimo 9, e estamos trabalhando com esse mínimo. É muito difícil espalhar esse som, fazer com que ele soe bem, estamos trabalhando nisso ainda, mas é a história do tempo… leva tempo fazer um Sondheim imersivo. No nosso caso da orquestra, o que nos facilita é que já conhecíamos esse espaço, então tínhamos essa vantagem.

Foto: Alê Catan

BM: Você acha que o Brasil estaria pronto para receber Sweeney Todd 15 anos atrás?

FERNANDA: Por que não? Se é uma peça que estreou em 1979…eu acho que depende do que você considera “pronto”. Seria feito de outra maneira, seriam feitas outras leituras. Mas a obra continuaria um clássico, pois é isso que a torna um clássico: ela sempre tem o que dizer. Hoje, no Brasil de 2022, uma mulher que usa carne humana para fazer torta porque não tem dinheiro para comprar carne é muito significativo. No Brasil de 15 anos atrás esse talvez não fosse um ponto tão flagrante. Um juiz que tira seu maior rival pra poder chegar no lugar dele talvez hoje em dia tenha outras conotações que 15 anos atrás. Uma pessoa que é prejudicada pela lei, 15 anos atrás tem conotações diferentes do que tem hoje. Mas eu acho que isso que faz da obra uma coisa rica, o fato de você estar sempre renovando essas leituras.

BM: Há outros espetáculos de Sondheim que você gostaria de dirigir?

FERNANDA: Nossa! Todos! Eu passaria a vida estudando essa pessoa. Eu gosto muito de Into The Woods. Eu acho que o jeito que ele fala sobre como a gente precisa se relacionar com as novas gerações e com a gente mesmo é muito importante. Quando ele fala “cuidado com o que você fala pois as crianças escutam”, ele fala muito sobre nossa responsabilidade como seres históricos e continuadores de algo. Isso pra mim é muito interessante em Into The Woods.

Guilherme Gila

Gila aqui! Apaixonado por música e teatro desde que me conheço por gente (e por músico e ator também hehe). É fácil me fazer falar, difícil é me fazer parar. Um prazer!

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