A FAMÍLIA ADDAMS (RECIFE) – ENTREVISTA

A Família Addams – O Espetáculo traz mais uma dose de veneno para os palcos pernambucanos! Após lotar o Teatro Apolo por duas noites seguidas e ver o público fazendo filas desde a bilheteria até o outro lado do teatro, a produção musical da produtora local Portela Produções em parceria com a Cobogó das Artes apresenta-se mais uma vez em Recife!

A trama mostra a sinistra família fincando seu castelo em Pernambuco e enfrentando um problema inesperado: Wandinha, a filha estoica da família, convida seu namorado normal e a família interiorana do rapaz para um jantar na mansão. A partir daí, a noite toma um rumo bizarro e assustadoramente cômico. O espetáculo conta com direção-geral de Adriano Portela, diretor do longa-metragem Recife Assombrado. Surama Ramos é responsável pela direção musical, com Sophia William e Vanessa Sueidy na direção coreográfica. O elenco é formado por Gabriela Durán (Mortícia), Aquiles de Sousa (Gomez), Ana Beatriz Souza (Wandinha), Laerte Augusto (Lucas) e grande elenco.

E hoje, a Broadway Meme mostra uma entrevista exclusiva com o elenco do espetáculo! Nós batemos um papo com Gabriela Durán, Aquiles de Sousa e Laerte Augusto — intérpretes de Mortícia, Gomez e Lucas na produção recifense com os personagens de Charles Addams — para falar um pouco sobre a produção, suas personagens e o teatro musical em Pernambuco. Vamos lá?

Broadway Meme: O que você mais gosta nessa família?
Gabriela Durán: Preciso falar das duas famílias, a Addams e a Família Cobogó. Nós somos extremamente unidos. Nunca tive uma experiência de elenco como tenho na Cobogó. E é o que mais gosto em nós. A união.
Sobre a Família Addams, eu me apaixonei por eles desde a primeira vez que li o roteiro da peça. Eu adoro como eles aceitam o que é diferente deles. Mesmo com resistência, mesmo não tendo contato com muitas pessoas. Eles aceitam o que para muitos é estranho. E lutam por essas pessoas como se sempre tivessem sido da família.
Laerte Augusto: O humor negro é o grande diferencial da família Addams. Não é à toa que eles formam uma das famílias mais hilárias e conhecidas da ficção.

Aquiles de Sousa: É tão difícil falar sobre isso! Mas eu acho que é a excentricidade, mesmo. É a possibilidade de você ser quem você é, independentemente do que os outros acham, sabe? E para aqueles que estão livres de qualquer preconceito, até mesmo essa excentricidade da família Addams pode parecer normal, aos olhos de quem se disponibiliza.

BM: Como foi a preparação para a personagem?
Gabriela Durán: Eu não conhecia muito bem a Família Addams. Devo ter assistido poucas vezes. Não me lembrava de todos os personagens. Não lembrava da Mortícia, por exemplo, que é o personagem que interpreto. Mas pesquisei muito sobre todos os personagens. Não foquei só no meu. Queria entender os outros e entender o humor deles, do que gostam, como se comportam, como pensam. Saber as afinidades com meu personagem. Saber como Mortícia age em relação a eles.
Isso ajuda muito nos momentos que, por alguma razão, precisamos improvisar. Trabalhei muito a minha elegância, meu andar, meus gestos, mas não construí uma Mortícia muito leve nos gestos. Não a vejo como alguém leve. Vejo a Mortícia como alguém que tem a presença pesada. Que você sente a aproximação dela mesmo longe. Então não optei pela leveza total dos movimentos. E consegui colocar mais humor no personagem dessa forma. Já que a peça é uma comédia, eu queria que ela fizesse o público rir. A “leveza” que ela tem nos filmes e na série, não funcionaria no palco para fazer rir.
Laerte Augusto: Eu tive total liberdade de criação para a minha personagem. Até então, o Lucas era desconhecido do público, e apesar de ele já ter ganhado vida em outros países, inclusive aqui no Brasil, Portela me deixou bem à vontade para sua construção.
Aquiles de Sousa: A gente teve muitas instruções. Na verdade, a gente que foi criança nas décadas de oitenta, noventa, sabe bem o que é a família Addams, pelo menos do desenho. E as referências são muitas, a gente consegue fazer um trabalho bastante empírico, mas baseado nas imagens, vídeos, literatura que a gente consegue pesquisar. Então, pra fazer a família Addams, a gente tem um bom repertório.

BM: E o processo de montar o espetáculo, do início da produção até agora?
Gabriela Durán: Para mim, pareceu meio lento nos primeiros meses. Até eu conseguir enxergar como o diretor, Adriano Portela, enxergava. Talvez eu fosse uma das pessoas mais empolgadas, pois eu que infernizei a cabeça de Adriano pra ele fazer um musical. Mas quando as dificuldades começaram a aparecer, eu me sentia culpada. Mas isso não durou muito tempo. A gente deu a volta por cima, em nome da arte.
Laerte Augusto: Foi tudo muito intenso e divertido. Portela não costuma fazer testes de elenco. Ele já tem em mente os atores que ele acredita combinar mais com as personagens do espetáculo que está prestes a montar e isso vai sendo confirmado com os exercícios teatrais que ele faz em aula.

BM: Qual foi o maior desafio que vocês enfrentaram?
Gabriela Durán: O canto. Nem todos do elenco tinham experiência com o canto. Eu era uma dessas pessoas (risos). Mas a responsabilidade de interpretar Mortícia em um musical só me instigava a aprender. Estudei muito. Diariamente. Hoje posso dizer: eu sei cantar. E sou grata a nossa preparadora vocal, Surama Ramos.
Laerte Augusto: Para o elenco, com toda certeza foi o canto e a dança. Poucos eram os que já cantavam e dançavam, mas com a paciência e perseverança dos profissionais responsáveis, acredito que fizemos um bom trabalho dentro dos nossos limites, claro.
Aquiles de Sousa: O maior desafio é o que aqui no Nordeste é muito comum, que é a falta de grana pra conseguir fazer um espetáculo do tamanho que a gente gostaria e com a qualidade técnica, de audiovisual também, muito boa. Enfim, vamos trabalhar, fazer o melhor possível, mas dentro daquilo que a gente tem como ferramenta.
Também tem outra questão, que é o fato de nenhum de nós ser cantor. Nós todos somos atores que vamos cantar. Então, cantar é, realmente, o maior de todos os desafios enquanto profissional. Mas a nível de grupo, realmente é a falta de dinheiro.

BM: Qual é uma qualidade do seu personagem que você gostaria de ter?
Gabriela Durán: Queria ter a facilidade que ela tem em encarar a morte. Não é uma coisa fácil. Ela ama a morte, mas ela é um personagem do universo fantástico. Trazendo para o mundo real, queria ter a resiliência que ela tem. Vamos chamar assim. Resiliência (risos).
Laerte Augusto: O Lucas ainda é bem inocente e imaturo. Eu já passei dessa fase, mas acredito que quando somos inocentes, somos mais felizes e o Lucas me parece um garoto bem feliz. Ainda mais agora, que está apaixonado e esse amor é recíproco. Tenho pena por ele não conhecer muito do mundo ainda, mas ao mesmo tempo, tenho inveja do que ele está vivenciando. É a inocência (risos), o primeiro amor a gente nunca esquece e ele ainda vai aprender que, muitas vezes, aquilo que mais nos faz feliz, também pode nos machucar como nunca.
Aquiles de Sousa: A qualidade do Gomez, eu acho que é a vivacidade dele! Ele topa qualquer parada a qualquer momento. Ele parece mais um adolescente no corpo de adulto, né? Mas parece que é uma constante dentre os Addams, eles todos são muito vívidos, e o Gomez, ele tem essa característica muito marcante. E o drama também me chamou muito a atenção!

BM: Quais são os desafios de fazer uma produção musical em Pernambuco?
Gabriela Durán: A direção do espetáculo sempre foi muito aberta conosco. Sempre soubemos que precisaríamos de muito dinheiro pra montar o espetáculo. Essa foi a única dificuldade que eu sabia que poderia nos atrapalhar. Não é fácil conseguir isso assim, do dia pra noite. A produção teve suas estratégias pra resolver isso. Eu não consigo lembrar de outro desafio, além do financeiro. Pois com muita divulgação conseguimos lotar o teatro nos dois dias de apresentações. Nunca vi uma fila daquela no Teatro Apolo. Nem acreditei quando vi a foto da fila dando a volta no teatro. Divulgação é tudo.
Laerte Augusto: Money! (risos) As pessoas não fazem ideia do quanto é caro e trabalhoso montar qualquer espetáculo, principalmente um musical. Figurino, iluminação, maquiagem, pauta do teatro, direção musical, direção de dança, direção de arte, cenário… Enfim, tudo isso custa muito caro e conseguir apoio no atual momento em que se encontra nosso país está cada vez mais difícil!
Aquiles de Sousa: É sempre uma questão de grana. E, ao mesmo tempo, o pessoal não conhece muito bem um musical preparado aqui. As referências que nós temos são do Sudeste ou de fora do Brasil. Aqui, a gente realmente não tem essa cultura. Trazer algo pro pessoal aqui de Pernambuco pode despertar muita curiosidade, como pode despertar alguma estranheza, visto que não é algo muito comum.

BM: Quais outros musicais você gostaria de ver acontecendo aqui em Recife, seja como parte do elenco ou apenas assistindo?
Gabriela Durán: Chicago, O Fantasma da Ópera, Aladdin, Wicked, e muitos outros.
Quero ver a Família Addams da Cobogó das Artes se apresentando muito ainda!
Laerte Augusto: Eu adoraria ver O Fantasma da Ópera!

BM: Como foi o trabalho com a direção? O Adriano, a Surama, a Sophia, a Vanessa…
Gabriela Durán: As direções são bem exigentes, mas não são carrascas. Adriano sempre é aberto e disposto a nos ouvir. Mas quando ele não quer, não insista (risos).
Surama nos ganha com aquele sorriso dela. Ela é muito tranquila, bem humorada. Isso ajuda tanto. Principalmente quando a gente acha que não consegue fazer algo. Ela nos mostra com toda praticidade que, conseguimos fazer o que ela pede e ainda mostra que conseguimos fazer mais. Isso é muito motivador. Nos prepara para além do nível esperado.
Vanessa tem uma energia alta, vinte e quatro horas por dia. Ela não parece ser real. Ela nunca demonstra estar cansada ou chateada. Nem quando a gente passava o dia inteiro ensaiando. No final do dia, estávamos todos sentados. Menos Vanessa.
Sophia tem outro estilo de coreografia que é diferente do de Vanessa. Mas ela é bem firme com o que quer passar. A gente achava difícil no começo, mas quando a gente conseguia enxergar como ela enxergava, tudo fluía.
Todas as direções nos prepararam para além de Addams. Para além da Cobogó. Eu não aprendi a cantar só as músicas do espetáculo. Surama me ensinou a conhecer minha voz. Ela não me preparou só para Addams. Ela me preparou para a vida. Já conheço Adriano há mais tempo. Sempre foi da mesma forma. Ele conversa com a gente, nos leva pra passear, viaja conosco, mas na hora do trabalho, ele se transforma no diretor exigente. Mesmo assim ele ainda tem bom humor e sempre nos faz rir entre um comentário e outro. Vanessa e Sophia nos ensinaram a ter consciência corporal. Hoje eu tenho uma noção de dança que sem dúvidas eu não tinha antes. Faço movimentos que antes pareciam impossíveis de fazer em uma dança. A nossa monitora de dança, Eduarda, teve muita paciência conosco. Ela tem tanto pra mostrar pro mundo. Tão nova, mas tão competente e responsável que nos impulsiona a fazer melhor não só por nós, mas também por ela.
Laerte Augusto: Todos são profissionais e pessoas maravilhosas. Foi bem puxado e exaustivo algumas vezes, mas valeu cada minuto! Gratidão a eles por todo conhecimento compartilhado!
Aquiles de Sousa: O trabalho com o Adriano é bem legal! Eu, na verdade, conheço o Adriano há muitos anos, e trabalhar com ele é tranquilo, de certa forma. Com a Surama, eu nunca tinha dito experiência de trabalho, mas ao mesmo tempo, a gente não teve tanto contato, porque ela foi mais dedicada ao coro. A Vanessa Sueidy é fantástica, é uma profissional da área de dança, é atriz também, escritora, poetisa, ela consegue pegar as coisas muito intuitivamente e criar coreografias massa.

BM: O que faz essa produção ser única?
Gabriela Durán: A Cobogó faz espetáculos profissionais. Com os alunos do curso. Isso diz tudo. Todas os apresentações que fizemos, lotaram os teatros. E sempre ouvimos a mesma coisa das pessoas. “Vocês não parecem alunos! Parece que têm anos de carreira”. Esse é o diferencial. A Cobogó não faz nada por fazer.
Laerte Augusto: O amor, a união, o respeito, a reciprocidade, a empatia que cada um tem com o outro. Eu amo cada um que fez o espetáculo acontecer. A Cobogó das Artes é uma família e eu nunca vou esquecer do quanto fui, sou e ainda serei feliz fazendo parte dela!

BM: E pra finalizar, você têm alguma mensagem pros leitores?
Gabriela Durán: Com estudo e dedicação, os objetivos ficam mais fáceis de ser alcançados. Insista. Não se contente em não sonhar.
Laerte Augusto: Sonhem o mais alto que puderem! Vocês são capazes de alçar voos inimagináveis. Nunca na minha vida pensei que um dia estaria no palco de um teatro lotado, cantando e contracenando com pessoas tão incríveis e cheias de luz. Me sinto realizado e cada dia mais capacitado pra conquistar tudo que almejo na minha vida. Vocês são capazes da qualquer coisa. Acreditem!
Aquiles de Sousa: Se dediquem a nos assistir, porque apesar de muitos contratempos que uma produção de teatro em Pernambuco (como um todo, não necessariamente musical) pode ter, ela dá muito trabalho.
Todo o nosso trabalho foi feito com muito apreço, com o máximo possível de qualidade, pra trazer um trabalho muito bem-feito pra quem pudesse se prestar a assistir. Então, que eles aproveitem, consigam entender o universo Addams e… De uma vez por todas, entender que o diferente é normal!

Agradecemos imensamente aos membros elenco, por se disponibilizarem para responder à entrevista! A nova apresentação de A Família Addams – O Espetáculo acontece no teatro Luiz Mendonça, às 19h deste sábado, 9 de novembro. Os ingressos estão disponíveis por R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Para mais informações, visite o perfil @cobogodasartes no Instagram.

Jackson Guilherme

No proshot mais claro, na gravação mais densa, os palcos tremerão ante a minha presença. Olá, meu nome é Jack e eu sou o recifense do rolê! Minha especialidade são memes e piadas ruins, mas no meu tempo livre, sou graduando em Letras — apesar de um pézinho meu estar no jornalismo e o outro estar sapateando ao ritmo do teatro musical.

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