Por Nicholas Duarte
A família Madrigal está chegando aos cinemas e a Broadway Meme teve a oportunidade de assistir com antecedência a mais nova animação musical da Disney. E podemos garantir: o estúdio do Camundongo tem se dedicado cada vez mais em entregar qualidade nas suas animações. (Aproveitamos também para agradecer ao canal Burn Book pelo convite!)
Nos últimos anos, a Disney tem criado fórmulas que duram determinado tempo, seja seguindo um padrão de roteiro ou querendo transmitir determinadas mensagens, seja nas próprias animações como nos estúdios que é dona. Elas podem render altos e baixos; e com Encanto, que segue o padrão que vemos em Wi-Fi Ralph, Frozen 2, Soul, Luca, Raya e o Último Dragão e até em Eternos, novo longa da Marvel, temos um grande acerto nessa ideia.
A ideia funciona com diversos filmes, mesmo em contextos diferentes, apresentando uma narrativa semelhante entre si – como aconteceu na última década, em que as histórias apresentavam um conflito mais realista e íntimo para o protagonista ao mesmo tempo em que os antagonistas eram apresentados através de reviravoltas. Alguns exemplos de sucesso são Frozen, Viva: A Vida é uma Festa, Detona Ralph e Os Incríveis 2 ou então na Era da Renascença (anos 90) onde o foco da narrativa era o herói derrotar o vilão para garantir que seus objetivos se concluíssem.
Encanto se utiliza dessa nova fórmula e consegue criar uma narrativa mais autêntica, apresentando uma história que prega a união, respeito e amor como desenvolvimento sem precisar de um antagonista para servir de apoio. Mesmo com semelhanças de contexto entre as últimas animações sobre a cultura latina (Festa no Céu, Viva – A Vida é uma Festa, A Jornada de Vivo), o longa consegue ter sua própria voz e isso é o que o faz ser incrível e digno de destaque – além de muitas lágrimas e risadas.
Com direção de Byron Howard, Jared Bush e Charise Castro Smith, o longa tem sua narrativa guiada por canções escritas pelo premiado Lin-Manuel Miranda, que esse ano teve destaque também nos musicais (Em Um Bairro de Nova York; tick, tick…BOOM!) e acredito que já pode ter um dedinho no Oscar.
A 60ª animação dos Estúdios Disney conta a história da família Madrigal, que vive em uma casa mágica numa vila ao redor das montanhas da Colômbia. Lá, Alma (María Cecilia Botero), a matriarca da família se estabeleceu para cuidar dos filhos e dos netos. Cada membro da família recebe da casa um dom que os torna únicos e entre eles, Mirabel (Stephanie Beatriz) é a única que não recebeu nenhum dom, o que a torna deslocada da família, fazendo com ela se sinta no dever de provar o seu valor a todo momento.
Quando a magia começa a enfraquecer, Mirabel acredita ser a única capaz de salvar sua família. E para isso ela vai precisar voltar ao passado da família e descobrir os segredos que podem salvar ou destruir o milagre do Encanto.
Diferente de outras animações do tema, o filme teve uma atenção também nos outros membros. O que deixa mais natural e fácil de se identificar, porque reflete que por trás de toda perfeição existem inseguranças e medos, mas sem deixar de lado o amor e zelo. Assim como também mostra que questionar nem sempre é um problema, algo que vemos através da Abuela Alma. Ainda que ela seja a matriarca e a autoridade máxima, toma atitudes e decisões que mostram que errar é normal e aprender com isso é o caminho a seguir, mesmo que inicialmente a gente ache que o que fazíamos era o certo.
Entre os diversos personagens vai ter algum que você assistindo vai se identificar. E diferente do que o filme prega, aqui NÓS FALAMOS DO BRUNO (John Leguizamo) por ser o personagem mais complexo e interessante. Mesmo assim cada personagem tem seu charme e seu momento de destaque. Principalmente os animais que mesmo com pouco tempo de tela, roubam a cena, principalmente a capivara e o tucano.
Marcando a 60ª produção do Disney Animation Studios, é esperado que o filme tenha sua importância. Ainda que não seja o mais marcante do estúdio, o que não tira seu valor e alta qualidade, mostra um carinho e delicadeza da produção. Assim como ocorreu com Enrolados, a abertura da animação aqui destaca o marco e sua importância e, por ser da mesma equipe de animação que trabalhou com Zootopia e Moana , a esperada qualidade impecável é cumprida com louvor.
Sendo totalmente voltado à cultura latina, a Disney se preocupou em trazer um elenco no original totalmente latino. Além das vozes de Stephanie Beatriz e John Leguizamo, nomes já conhecidos de diversos e populares do grande público, temos outros de sucesso em Hollywood e na Colômbia, como o cantor Maluma, María Cecilia Botero, Mauro Castillo, Angie Cepeda, Jessica Darrow, Diane Guerrero e Wilmer Valderrama.
E por aqui no Brasil não ficamos atrás em qualidade de dublagem: com adaptação musical de Mariana Elisabetsky, já em uma longa parceria com a Disney, temos vozes conhecidas pelo público, tanto novas quanto clássicas. Logo podemos reconhecer as vozes de Mari Evangelista como a protagonista Maribel, Lara Suleiman e Larissa Cardoso fazendo as irmãs Luisa e Isabela, além de Claudio Galvan, Sérgio Rufino, Filipe Bragança e Jennifer Nascimento completarem a família.
Algo curioso: cheguei a escutar um o comentário sobre como Lin-Manuel Miranda já estava saturado no cinema e acredito que, depois de assistir Encanto, a pessoa tenha percebido como se enganou. As canções trazem claramente todas as características que definem seu trabalho de compositor, como a variedade de estilos e músicas que migram para o rap repentinamente. Mas, dessa vez, isso acontece de forma mais refinada e orgânica, como no primeiro número Família Madrigal, que apresenta os personagens e temos uma boa transição que reflete o humor ou a situação de cada membro da família.
Com apenas 8 canções, a maioria serve somente como pretexto para apresentar personagem, com poucas servindo para seguimento da história. Porém, tanto na versão original quando em português, não teve mudanças nos trechos em espanhol, como Dos Oruguitas e Colombia, Mi Encanto. E isso acontece tanto pela narrativa trabalhar visualmente as falas no contexto, especialmente com “Dos Oruguitas” sendo parte do clímax, como também pela intenção de valorizar a cultura colombiana.
Ainda que Encanto tenha seus muitos e merecidos méritos, não podemos deixar de citar seus deslizes. É notável que a junção de tantas pessoas na direção mostra algumas mudanças drásticas no enredo que se perde em partes, sendo ao mesmo tempo intimista e grandioso.
Também temos situações que não são dosadas, com conflitos se resolvendo rápidos demais ou arrastados sem necessidade – um exemplo é a relação de Mirabel com as irmãs, com momentos que ocupam um grande espaço no filme, mas não levam a lugar nenhum. Ou então, acontece uma tentativa de passar a mensagem que a família é muito mais do que apenas os dons, enquanto o roteiro tem medo de se distanciar que os dons são os que os definem.
Com a mensagem sobre amor, união e honestidade, Encanto é um filme repleto de vida, cores e sentimentos que toda a família pode assistir e amar. Mesmo com alguns pontos negativos, é uma história Disney que vai entrar no nosso coração para dividir espaço com os clássicos que tanto amamos.
Com charme suficiente para garantir as indicações ao Oscar – apostas para em Melhor Animação e Canção Original –, é um filme leve e criativo perfeito para assistir nesse final de ano. E de quebra ainda tem de presente o maravilhoso curta-metragem Distante da Árvore, que abre o filme.
Encanto estreia em todo Brasil no dia 25 de novembro, exclusivamente nos cinemas.
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