No dia 7 de julho, Evita Open Air, produzido pela Ateliê de Cultura, estreou oficialmente no Parque Villa-Lobos, em São Paulo. Essa é a terceira vez que a obra de Andrew Lloyd Webber é montada no Brasil, mas como essa se destaca das outras? É simples: pela sua grandiosidade.
Quando pensamos na produção desse espetáculo a céu aberto, logo vem à memória a referência icônica que foi a montagem de 2019 em Londres. Porém a produção brasileira se difere em muitos aspectos. Com uma experiência que começa antes mesmo de você entrar para a arquibancada, Evita te transporta brevemente para um festival. As barracas de comidas, lambe-lambes do musical e espaços instagramáveis são as primeiras coisas que fazem o público se aconchegar para ouvir a história de María Eva Duarte de Perón, a atriz e líder política argentina.
O produtor Vinícius Munhoz, durante a coletiva de imprensa, contou que trazer o espetáculo no pós-pandemia, já era previsto para estrear em 2020, fez com que a produtora tivesse de alterar as ideias iniciais. O questionamento era: “o ingresso já tem, mas o que fazer para que as pessoas venham, saiam de suas casas para ir ao teatro?’”. A resposta veio na forma de uma experiência que vai além de apenas assistir ao musical.
E, claro, sobre o espetáculo, o motivo de estarmos aqui hoje, vocês podem nos perguntar se vale a pena. A resposta é simples: um sonoro sim. A produção é imperdível, e facilmente pode rolar um sentimento de “não acredito que perdi isso” quando seus amigos comentarem sobre ela.
Ainda que com boas e clássicas músicas como Buenos Aires, A Nova Argentina e Não Chore por Mim Argentina, confesso que o roteiro do musical original nunca me agradou muito. Sempre me pareceu extremamente corrido com a história da primeira dama.
Claro, a produção brasileira não consegue resolver problemas de roteiro que vem desde 1978, mas passa por cima disso ao se agarrar em três fortes pilares: a escolha acertada de protagonistas, um elenco sensacional e uma estrutura gigante.
A escolha de Myra Ruiz como Evita Peron é definitivamente o principal (e brilhante!) destaque. Pelo espetáculo levar seu nome, Evita carrega muitas cenas, presente como uma protagonista forte e Ruiz dá vida na intensidade que o papel exige. Seu controle vocal e atuação são fenomenais, conseguindo entregar ao público cada camada da personagem de uma forma única e delicada. É um grande orgulho ver toda evolução e crescimento de Myra como artista e até poderia dizer que esse é seu ápice, mas sei que ela ainda vai crescer e nos maravilhar mais.
Uma (ótima!) surpresa para todos os fãs de musicais é ver Fernando Marianno em um papel protagonista pela primeira vez em seus 15 anos de carreira. Como Che, ele tem o trabalho de narrar a história, estando entre um fino véu de interação com Evita e seu papel como um observador com muitas opiniões. Um personagem fisicamente demandante, que corre pelos 54 metros de palco, sobe as estruturas e está sempre agitado, podemos ver como Marianno se entrega – e como ele deveria estar nessa posição de destaque a muito tempo!
(Uma observação: me encantou a química da Myra e Fernando no palco, exalando um enemies to lovers que não faz parte da história, mas entrega bons momentos juntos)
Já Cleto Baccic mostra sua versatilidade como ator saindo da sua antiga função de dono de uma fábrica de chocolates para dar vida, agora, ao militar Perón. Baccic traz uma atuação extremamente, sutil e delicada, mas firme. Nas cenas finais do espetáculo, por exemplo, sua conexão com a peça e a emoção transmitida ao público me fez pensar que primeira dama estava realmente se despedindo do marido ali na minha frente.
E como uma andorinha não faz verão sozinha, é preciso falar sobre o elenco. Não limitado aos protagonistas, todos do ensemble e coadjuvantes dão um show à parte e você poderia assistir Evita outras dez ou quinze vezes e, ainda assim, seria impossível ver tudo que eles entregam. Desde as coisas mais à vista, como Alicio Zimmerman e seus truques de mágica, até mesmo brincadeiras do ensemble durante as danças. Um destaque que é preciso ressaltar vai para Fernanda Muniz. A dama de vermelho consegue prender atenção do público, desviando os olhares para ela no momento em que pisa no palco.
Quanto ao último pilar, aqui realmente fotos valem mais que mil palavras. Se ao chegar você já se encanta com a estrutura montada para este Evitapalloza, ao ver as arquibancadas e o palco, a surpresa é ainda maior. O espetáculo funciona bem tanto a tarde quanto a noite, valendo a pena repetir a dose para ter as duas experiências
Claro, elas são diferentes. À tarde, em um dia de sol, você perde as iluminações geniais das sessões noturnas, mas ganha um por do sol estarrecedor no horizonte. Também, a noite, é preciso lidar com o frio que faz em SP nessa época do ano. Nossa dica é ir bem agasalhado e, se você for mais friorento, levar uma manta para se cobrir ajuda.
De modo geral, Evita Open Air é um marco não apenas por ser o primeiro a céu aberto no Brasil, mas por mostrar novas formas de como teatro musical também pode ser feito. É uma experiência para marcar na sua Listas De Coisas Para Fazer Em São Paulo Até 28 de Agosto.
Não deixe essa performance passar, porque depois não adianta chorar – nem se for pela Argentina.
Serviço:
Evita Open Air
Parque Villa-Lobos – Entrada pelo portão Cândido Portinari; Avenida. Queiroz Filho, 1365 – Alto de Pinheiros, São Paulo-SP;
Sessões de quinta-feira a domingo até 7 de julho a 28 de agosto;
Ingressos entre R$ 50 e R$ 300; vendas pela site oficial ou bilheteria física (Instituto Artium – Rua Piauí, 874 – Higienópolis; de quarta a sexta entre 12h e 18h, sábados e domingos entre 10h e 18h.
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