BM escreve: Stray Gods – Finalmente um game para os fãs de teatro musical

Stray Gods: The Roleplaying Musical Fotografia: Summerfall Studios

Nesse mês de agosto, dia 10 do ano 2023, foi lançado um projeto inédito. Stray Gods é um jogo virtual de escolhas, em que o jogador decide por qual caminho trilhar e montar sua história. Até aí, nada novo. Jogos point and click e RPG sempre existiram, inclusive, foram os primeiros, usando o Command Prompt do computador (aquela telinha para programação preta clássica). Mas o grande diferencial de Stray Gods é ser um jogo musical. E suas escolhas não são apenas decisões que guiam a história, mas elas ocorrem no meio das músicas, de forma que o caminho que é tomado molda os versos para rumos alternativos. Cada jogador, no final, tem uma playlist de músicas individuais. É uma ideia tão revolucionária em juntar o mundo dos jogos e o teatro musical dessa forma que parece estranho que nunca tenha sido feito. E é porque coisas similares já foram feitas, só que no teatro.

Primeiro, vamos voltar um pouco no passado, na criação do teatro. O nome “teatro” vem do grego “theatron”, que significa “lugar de onde se vê” ou “lugar para ver”. Assim já é possível entender de onde vêm a inovação dessa ideia. O teatro foi criado para ser assistido, independente do povo de origem. Japonês, egípcio ou grego, todos tinham esse aspecto em comum: o público é passivo e os atores, texto e cenário, ativos. O processo de questionamento sobre essa relação se iniciou na criação do conceito de “quarta parede”, muito popular hoje em dia, mas que era muito novo na época. A “quarta parede” faz referência ao palco italiano, que toma forma retangular, tendo as coxias nas laterais, o cenário no fundo e o limite que divide o palco e o público. A “quarta parede” é justamente essa última. O termo foi popularizado a partir do século XIX, nos movimentos artísticos Realismo e Naturalismo, em que as peças que surgiam na época queriam retratar a realidade de forma tão nua e crua, que essa parede que dividia os atores dos espectadores se abrandava. E daí vem a expressão “quebrar a quarta parede”, que é quando por meio de metalinguagem (quando uma linguagem necessita de outra linguagem para seu complemento). Por exemplo: Into the Woods, que tem interação direta com o público, como o Gênio em Aladdin, ou quando o público controla o ritmo e acontecimentos da história, que é o caso de Stray Gods.

O videogame foi uma ideia que realmente mudou a forma que a sociedade consegue enxergar a mídia. O público, que antes era passivo, pode controlar o que ele enxerga no palco, se tornando mais ativo e envolvido no processo de construção da trama. Surgiram, ao longo do tempo, muitas peças que tentavam recriar tal sensação de dependência do espectador, um “teatro interativo”, como inúmeras peças de detetive, em que quem assistia é quem monta o quebra cabeça, ou como a peça The Trail to Oregon! do grupo Starkid, em que o público decidia diretamente o futuro de alguns personagens e, consequentemente, o final. Mas, do outro lado da moeda, jogos que são musicais, são bem mais escassos. Isso porque a concepção de controlar uma peça musical seria similar a um jogo em que você mais assiste que joga, e isso nunca foi visto como tão engajante.

Por isso Stray Gods é tão interessante, um time de desenvolvimento com apenas 14 pessoas, mais os dubladores dos personagens (que inclusive são grandes nomes, tem até a Laura Bailey, vencedora de muitos prêmios) conseguiram tornar essa ideia possível. Isso pode inspirar uma nova era dentro do mundo dos musicais, com mais uma forma de contar histórias. Recomendo dar uma olhada nesse projeto, acompanhar a empresa independente por trás disso, Summerfall Studios, como um jeito de apoiar esses pequenos criadores com ideias inovadoras.

O jogo está disponível nas lojas virtuais Steam, Epic Games, Gag Com e Humble Store, para poder jogar em seu PC mesmo, além das lojas próprias dos consoles Playstation, Xbox e Nintendo Switch. 

BM

Autor: Alex M.
Revisão: Brígida Rodrigues e Jack Guilherme
Edição: Brígida Rodrigues

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