BM ESCREVE: “Se Essa Lua Fosse minha” promove poesia e folclore em curta temporada no Rio

Foto por divulgação

As histórias mais conhecidas e aclamadas do mundo utilizam basicamente os mesmos componentes: amor, ganância, vingança, ódio e inveja. E isso acontece desde Shakespeare, e mesmo antes disso, com as tragédias gregas. Novelas, séries, espetáculos seguem até hoje essa fórmula da jornada do herói, encantando leitores, espectadores e público ao longo dos séculos.

Vitor Rocha, em “Se Essa Lua Fosse Minha”, um de seus espetáculos mais conhecidos, definitivamente não inventou a roda, visto que ele bebe de todas as fontes já citadas de forma inegável. Poderia ser mais do mesmo, mas o grande diferencial, o que realmente cativa o público, é a forma que o texto é utilizado, as referências tão bem empregadas. Vitor é conhecido por sempre invocar as raízes brasileiras em suas histórias: o nordeste, o folclore, as brincadeiras, cantigas de roda. E tudo se encaixa perfeitamente na narrativa que esse elenco coeso, afinado e intenso apresenta. 

“Se Essa Lua Fosse Minha” é uma grande história de amor entre Leila, lindamente interpretada por Luci Salutes e Iago, vivido por Arthur Berges. A química do casal jorra para a plateia que se vê imersa em um universo lúdico, poético e encantador. O casal é de territórios rivais, linhas que não podem ser ultrapassadas. A subversão às regras dos dois geram acontecimentos surpreendentes. O espectador oscila ora entre a agonia, ora entre a doçura, apertando as mãos na cadeira ou relaxando nela durante aqueles momentos ternos, que deixam o coração quentinho.

Em um elenco tão bom é muito difícil selecionar um único destaque, mas Luci Salutes concentra na protagonista a mistura perfeita entre a coragem desmedida e a inocência quase infantil. Ela que sonha em desbravar o mundo, mas nunca saiu de sua terra. Arthur Berges imprime a revolta de Iago Batesquião com sua família e o contraponto da ternura ao lado de sua amada com maestria. Leonam Moraes e Larissa Carneiro, casal Bastequião: ela recorre ao caricato em meio a tantos dramas familiares; já ele é a parte mais dura e tensa dos dois. Ambos despertam risos e revolta da plateia quase que de forma simultânea.

Outro casal que faz a história se movimentar é Florípio, o criado submisso dos Batesquião, vivido por Thiago Marinho e Belisa Passaláqua, interpretada por Marisol Marcondes, a noiva prometida e desastrada que é a outra parte de um casamento que nenhum dos dois quer. Ambos começam a história mais tímidos e se revelam de formas importantes no decorrer das duas horas de espetáculo.

Vitor Rocha, além de autor, também atua no musical como Pirulito, o braço direito da protagonista que faz de tudo por ela. Com os desdobramentos do espetáculo, a plateia percebe que ele tem mais camadas do que aparenta. Daniel Haidar e Edmundo Vitor, como Levi e Delfim, promovem, talvez, um dos momentos mais poéticos dessa história que é só poesia e que tem parte fundamental na conclusão da narrativa.

O texto de Vitor Rocha é um bálsamo aos ouvidos, aliado a um elenco extremamente entregue e talentoso, músicas bem feitas, daquele tipo que você fica batendo o pé no ritmo sem nem perceber. Com praticamente nenhum recurso, cenários grandiosos ou figurinos exuberantes, nos apresentam a uma história perfeita, redonda, com personagens carismáticos, narrativa simples e profunda ao mesmo tempo.

O autor não inventou a roda, mas com sensibilidade, poesia e encanto fez essa roda girar de uma forma que é difícil não se apaixonar e deixar saudade em quem sai do teatro.  como  ele mesmo diz: “saudade é um rio que não corre, mas se afoga só de molhar os pés”. 

A temporada no Rio de Janeiro de “Se Essa Lua Fosse Minha”  fez tanto sucesso que foi renovada. Por mais um mês, de 2 a 25 de junho, os cariocas terão a oportunidade de assistir e se apaixonar por essa história, agora em cartaz no Armazém Companhia de Teatro na Fundição Progresso. Os ingressos já estão à venda no Sympla.

Autoria
Tamiris Pires

Edição
Brígida Rodrigues

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