Giulia Nadruz é, sem dúvidas, um dos nomes mais conhecidos e prestigiados no teatro musical brasileiro. A artista traz em seu currículo mais de 20 musicais e clássicos como “O Fantasma da Ópera”, “Ghost”, “West Side Story”, “Shrek” e “Barnum- O Rei do Show”. Em 2023, Giulia encarnou Fanny Brice, papel imortalizado por Barbra Streisand em 1964 no teatro, fazendo tanto sucesso que, em 1968, virou filme, mais uma vez com Barbra como protagonista, o que a premiou com o Oscar de melhor atriz.  Recentemente “Funny Girl” ganhou uma nova versão na Broadway estrelado por Lea Michele arrecadando milhões de dólares.

A versão brasileira de “Funny Girl – Uma Garota Genial” estreou dia 18 de agosto no Teatro Porto, em São Paulo, e fez temporada no Rio até 19 de novembro no Teatro Casagrande. Giulia Nadruz é o tipo de artista que não precisa provar mais nada para ninguém, mas em “Funny Girl” ela simplesmente superou todas as expectativas.

Naquele mesmo palco, no Teatro Casagrande, há pouco tempo, Giulia vivia Jenny Lind em “Barnum- O Rei do Show”, total oposto da personagem que encarou em seguida. A caracterização, postura e trejeitos de Fanny fazem quem assistiu Jenny Lind sequer lembrar da elegância e suavidade da sueca.  Fanny Brice é desengonçada, insegura, autêntica, não consegue disfarçar seus sentimentos; tem enorme talento, mas não consegue fazer com que os outros acreditem em seu potencial justamente por ser fora do padrão do show business. Giulia encarnou a protagonista desde a juventude sonhadora até a vida adulta de uma mãe que lida com problemas maiores do que sua estreia no palco, e traz perfeitamente as nuances de cada fase.

Sua parceria com Eriberto Leão, que vive o jogador Nicky Arnstei e grata surpresa em seu primeiro musical, é arrebatadora. A química do casal jorrava pela palco e emocionou quem assistiu, desde que se conhecem, o flerte inicial, as idas e vindas, os problemas que começam a surgir, até o seu ápice com ambos jogando na cara um do outro as mágoas de uma vida inteira. 

Stella Miranda foi um show à parte como a estridente Rose Brice, mãe da protagonista, responsável por arrancar gargalhadas da plateia com suas tiradas e exageros que constrangem sua filha e geram identificação imediata na plateia, afinal, quem nunca teve vergonha da mãe que atire a primeira pedra.

Giulia Nadruz é uma artista que não tem medo de desafios. Em “Barnum”, aprendeu sueco, técnicas circenses e cantou ópera pendurada em um trapézio; já como Fanny, Giulia não só andou, mas dançou de patins, além de números muito bem executados de sapateado. Ela impressionou pelo fôlego, afinação e alcance vocal em canções difíceis.

Fanny Brice foi uma artista além de tempo, que passou por vários obstáculos para se tornar a estrela que sempre teve certeza que poderia ser: enfrentou o machismo, as pressões de uma sociedade opressora e viu sua vida virar do avesso por acreditar no amor de um homem, mas encontrou na arte a chance de se reerguer e pôr seu nome na história.

Um ícone que rompeu barreiras e quebrou tabus que reverberam até hoje, carregar o protagonismo e o peso de Fanny Brice não é nada fácil, e ninguém melhor que Giulia Nadruz para vivê-la no palco. Uma grande artista encenando outra em um espetáculo lindo, emocionante e inspirador.