BM escreve: Autodescoberta e Paternidade no tragicômico Fun Home

Por Sara Krulwich/The New York Times

Hoje, em comemoração ao Dia Dos Pais, a BM decidiu explorar o poderoso e emocionante musical Fun Home, inspirado na aclamada história em quadrinhos de Alison Bechdel. Com a parceria criativa de Lisa Kron e Jeanine Tesori, este espetáculo traz à vida uma jornada única de autodescoberta e complexidade nas relações familiares, especialmente na figura do pai.

Fun Home é baseado na Graphic Novel homônima de Alison Bechdel, que narra sua infância e juventude enquanto descobre sua identidade como lésbica e enfrenta as complexidades de sua relação com o pai. A narrativa é apresentada em três estágios da vida de Alison: sua infância, adolescência e vida adulta, proporcionando uma perspectiva multifacetada e envolvente sobre sua jornada pessoal.

Eu admito que me vi imerso na emocionante jornada do musical Fun Home, uma experiência teatral que tocou meu coração de uma maneira única. Ao explorar a história de autodescoberta e complexidade nas relações familiares, especialmente na figura da paternidade, senti uma profunda conexão com os personagens e suas experiências.

O musical mergulha nos relacionamentos entre os membros da família Bechdel, em especial o vínculo de Alison com seu pai, Bruce Bechdel. Como proprietário de uma funerária e professor de inglês, ele é visto como um homem comum, mas, ao longo da história, o público é convidado a descobrir camadas mais profundas de sua personalidade. Bruce esconde segredos que desafiam as expectativas sociais e luta contra sua própria identidade em uma época menos tolerante.

Assistir a essa peça me trouxe lembranças de minha própria jornada de autodescoberta e das relações que moldaram quem sou hoje. Como filho, pude me identificar com os diferentes estágios da vida de Alison Bechdel e a maneira como ela explorou sua identidade enquanto enfrentava os desafios de compreender seu pai.

Quando somos jovens temos essa ideia de que nossos pais são pessoas perfeitas, que sabem de tudo, e isso está longe de ser verdade. Eles são seres humanos como nós, cheios de defeitos e qualidades, que tentam ao máximo colocar uma “máscara de maturidade” para os seus filhos.

Fun home trabalha muito bem essa temática através da relação de Alison e seu pai, Bruce Bechdel. No começo achamos que ele é uma pessoa fria e séria, mas quando nos aprofundamos em sua história e passado, vemos que ele é apenas um ser humano tentando se aceitar e, ao mesmo tempo, tendo que lidar com o papel de ser pai.

Assim como Alison,  tive a oportunidade de refletir sobre as complexidades da relação com o meu próprio pai. Suas camadas mais profundas, muitas vezes escondidas sob a fachada do “homem comum”, ressoam em mim. Perceber que todos nós, como filhos, temos nossas próprias perspectivas e lutas para entender nossos pais, tornou a história ainda mais tocante.

Outro ponto interessante do musical são as intervenções da Alison adulta, que relembra os momentos da sua infância e vê outro significado neles agora, estando mais velha. Quando somos crianças temos essa visão monocromática das coisas e somente quando crescemos percebemos certos detalhes de memórias infantis.

Ao contrário de Alison, sou o filho do meio e não o caçula, mas pude me relacionar com a história, pois certos aspectos da relação entre pai e filho são universais. Da mesma forma que Alison implora pela atenção do seu pai, eu pedia para o meu pai brincar comigo, mesmo sabendo o cansaço que ele sentia após um dia de trabalho. As conversas monossilábicas e até momentos de silêncio um do outro, todos esses aspectos estão presentes em Fun Home e você pode se identificar.

E da mesma forma que Alison afirma que certos aspectos da sua personalidade foram influenciados pelo seu pai, eu posso dizer o mesmo. E também, assim como a personagem começou a ler e se apaixonou por literatura devido ao pai,  me apaixonei por musicais e teatro por influência do meu. Até mesmo na minha fase “rockeira” chata, meu pai dizia “Nenhuma música é abaixo da outra, se ela te faz sentir algo, ela cumpriu seu papel”, e eu levo isso comigo até hoje.

Luiz Fernando Veríssimo disse que “A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte final.”. Não deixa de ser verdadeiro, mas para mim, o pai é responsável em influenciar esse “layout”.

Por Marc Brenner/The Guardian

Shakespeare afirma que “Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho”, e Fun Home é o espetáculo teatral perfeito para essa mensagem, pois também é um lembrete poderoso de que, apesar das diferenças e dos obstáculos, o amor e a conexão entre pais e filhos são fundamentais. Neste Dia dos Pais, levo comigo essa mensagem inspiradora e a lembrança emocionante deste musical que capturou a essência da jornada familiar e da autodescoberta.

 

BM

Autor: Marcos Paulo
Revisão: Jack Guilherme
Edição: Brígida Rodrigues

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