Já assisti, no mínimo, cinco adaptações de musicais de sucesso para o público brasileiro até então. E posso afirmar com certeza que Alguma Coisa Podre é uma das melhores adaptações feitas, por alguns motivos, mas o principal é que é uma montagem muito bem localizada.
Algo que obras adaptadas enfrentam o tempo todo é o desafio de evitar que seja apenas uma tradução da obra, mas que transporte o sentido original para o nosso, e esse desafio se apresenta extremamente mais complicado quando a obra depende muito de referências do local de origem. Por isso, uma via de adaptação muito usada é modificar o texto para que tenha referências locais brasileiras.
No caso de Alguma Coisa Podre, isso é elevado a um novo patamar, pois não são apenas as piadas ou o texto que são localizados, mas os números todos. As danças têm referências a coreografias de TikTok, algumas cenas do coro são encenadas como cenas de gravações da platéia de Elvis Presley, entre outros. E funciona muito bem, pois a história fala exatamente sobre cultura pop atual, misturada com uma alegoria à época de Shakespeare.
Foto: Caio Galucci
O musical é uma clássica discussão sobre o valor da arte, e se arte comercial ainda é arte, e faz isso em forma de metacomentário. Inclusive, essa é uma metamídia, ou seja, uma mídia que fala de si própria, e essas são as minhas favoritas. A obra é sobre dois irmãos que tentam fazer sucesso no período da Renascença, mas sempre perdem para William Shakespeare, e o enredo é sua busca por uma ideia que irá mudar suas vidas.
O elenco brasileiro se mostrou impecável, desde os protagonistas ao corpo de dança, dá para perceber que são bem experientes e entregam tudo de si. Não é à toa que foram indicados em 11 categorias na premiação Bibi Ferreira, ganhando 4 deles com sua temporada em São Paulo. A participação de celebridades como Marcos Veras e George Sauma também se provou uma exceção à regra de que celebridades convidadas teriam performances mais limitadas que profissionais mais específicos da área. Eles deram um show, literalmente. Muita presença de palco e diálogos bem entregues. Um espetáculo cinco estrelas.
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