Geração Glee, o Musical: das telas para o palco

Novelas, ou soap operas, têm um estilo muito específico de contar histórias. São mais pessoais, íntimas, cotidianas, e por isso, facilmente encantam o público, pois são muito próximas dele. Mas quando isso se junta à música, você tem febres como Glee, uma das séries mais aclamadas e relembradas do século XXI, recebendo dúzias de prêmios variados e mantendo uma audiência mesmo depois de 10 anos.

Mas, apesar de ser uma obra musical, Glee só foi ganhar um modelo de teatro musical em palco com Martin Callaghan – célebre no West End, passando por Cats, Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat, Funny Girl, entre muitas outras participações. A peça em questão se chama Generation Glee e foi lançada originalmente no Reino Unido, sendo adaptada em seguida para Espanha e Portugal, e, é claro, chegou ao Brasil em 2022 pela Escola de Artes Faz Assim. Para contar um pouco dessa história, fizemos uma entrevista com Rachel Dalfior, produtora executiva da EAFA e da montagem brasileira de “Geração Glee: o Musical”.

RACHEL: “Martin Callaghan pegou a ideia da série, esse universo, que inclui competição, pessoas que se expressam através da música, se encontram e se unem através dela, e produziu este musical. Foi pra Portugal, Espanha, e depois era para vir aqui para o Brasil em 2020 pela EAFA, mas foi prorrogado para 2022, e foi muito sucesso. Era para termos ficado um mês em cartaz e ficamos três. Agora, este ano (2024), em que a EAFA está fazendo cinco anos, viemos trazer essa montagem de novo que é tão importante para a gente. 

Fred Trotta, nosso diretor residente, fez a adaptação para o Brasil, e em 2022 a montagem foi igual à como Martin imaginou. Mas em 2024, fizemos adaptações, trazendo mais questões pertinentes do próprio país. Tem questões universais, como intolerância, mas tentamos trazer histórias que são muito nossas, e acho que isso deu muito certo, porque o público que vem acaba se identificando muito. Seja com as músicas ou com os personagens, ou a pauta. Há pouco tempo, fizemos intercâmbio em Londres, onde fomos em West End, e neste ano em Nova York, na Broadway, vimos &Juliet, entre outros musicais, e ficamos apaixonados.

Quisemos trazer duas músicas do musical para o nosso, o que casou muito bem. Trouxemos Everybody, que casa muito com os meninos contra as meninas que performam Bang Bang. E Roar, que é a revelação da personagem Anna (Giovanna Lima), que antes cantava All By Myself e agora falamos “’não, vamos modernizar, vamos trazer a heroína, o feminismo, ela virando o leão e indo com tudo, pegando as rédeas da vida dela”. Conseguimos fazer um grande sitcom que permeia vários assuntos, que pega tanto os adolescentes quanto os adultos que passaram por isso.”

Rachel também conta um pouco sobre o que é o musical Geração Glee:

“O Geração Glee é um musical baseado na série – traz toda a energia dela, as músicas pop em estilo de musical, e ele fala muito de aceitação. Você vai percebendo que tem muitos grupos ali, e vai trabalhando essa questão da aceitação. Tem casos de bullying, que acontece em high schools, tem a turma de artistas que sonha chegar à Broadway… 

Você tem a Fleur (Anna Paula Guimarães), que tem uma história riquíssima, porque ao mesmo tempo que ela é cheerleader, super-popular na escola, ela tem praticamente a escola aos pés dela, ela não consegue conquistar o garoto popular, que se interessa pela garota mais apagadinha, e tem um drama em casa, em que sofre violência do pai e consequentemente do irmão, que é muito machista porque foram criados dessa forma. Nesse contexto de se encontrar, ela acaba encontrando Lara, e ali elas formam uma história de amor. É uma amizade que acaba virando algo a mais. Nessa intolerância do mundo ela acaba sofrendo mais, uma intolerância que a gente não pode aceitar. E quando toca You Will Be Found, é exatamente sobre isso, a dor de Fleur, e os alunos se apoiando, eles deixam a rixa de lado para virar um grande grupo. Na passagem de tempo ela começa a ver que não está sozinha, inclusive Greta (Millena Azevedo) – a nerd da sala, com quem ela implicava muito – acaba vendo outro lado dela, e ao mesmo tempo, Greta consegue se descobrir, porque na verdade Greta tem TDAH. 

Tem também a Vandressa, que é a patricinha endinheirada, que não é da escola pública, mas da escola privada, com seu irmão, Jonas, que foi interpretado pelo Bernardo Mastema Torres, que traz um pouco do High School Musical, da Sharpay e do Ryan. O musical é uma curva, que começa com competição e conflitos, e termina com união.”

Também entrevistamos Bernardo Mastena Torres, que interpreta alguns personagens na montagem, incluindo Jonas, o irmão capacho de Vandressa.

BERNARDO: “Minha primeira peça com a EAFA foi em 2022, e foi uma experiência e tanto. Foi quando eu me senti confiante para poder atuar no palco, de cantar na frente de tantas pessoas, e foi uma experiência incrível. Continuo desde então em várias produções, e pretendo nunca parar. A maioria dos personagens são originais, não fazem referência a série, tendo liberdade para criar. Não esperava ter o papel do Jonas, que antes era de Luiz (o ator Luiz Gustavo, que interpretou o papel na primeira temporada), mas foi uma honra poder fazer. Olhei muitos vídeos dele no papel para me inspirar, mas também me inspirei no Ryan do High School Musical, e queria pegar algo mais original, algo meu pro personagem. Comecei a estudar quem ele é, a relação com a irmã, e pensei numa relação em que ele idolatra a irmã, mas ele idolatra tanto ela que fica cego aos seus defeitos. Mas também, não é difícil ver os defeitos da Vandressa, pois ela gosta de se mostrar!”

Fora e dentro do palco, foi perceptível a paixão que os atores tiveram com seus personagens. Em cena, eles nunca saíam deles, nem por um momento, como se tivessem um apego forte. É muito bom ver talentos que estão se projetando dessa forma, já vivendo o Teatro. As cenas de dança e canto estavam deslumbrantes, como um grande clipe de música sem cortes. Os temas que aparecem na peça também são importantíssimos de serem mostrados, e são feitos de uma forma leve e alegre, porque, no final das contas, a peça é sobre esse sentimento inexplicável: GLEE.

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