O cartaz de Eu de você, monólogo de sucesso de Denise Fraga, já diz muito sobre a mensagem que o espetáculo carrega e quer transmitir. É uma linda foto de Denise, olhando profundamente para a câmera, e nada mais. Quem vê de cara, pode até não entender, mas após assistir à peça, tudo faz sentido.

Em pouco mais de uma hora, Denise nos convida a olhar o outro, de verdade, não somente pelas telas. Ela conta histórias de pessoas reais, que a gente cruza pela rua todos os dias, também convida a plateia a fazer parte dessas histórias. Tudo isso embalado por música, humor, toque, poesia, provocação, e principalmente, pelo olhar.
Denise, acompanhada por uma banda afinada, um jogo de luzes preciso e paredes em branco, faz de um jeito absolutamente sensível e honesto o espectador se enxergar ali, em cima do palco e fora dele também. Por meio de um texto costurado por nossas histórias, com o talento, a sensibilidade e a entrega gigantescas de Denise Fraga, percebemos o quanto o ser humano é fascinante, e o quanto nossas relações interpessoais estão cada vez mais frágeis.
Denise Fraga é uma artista que sempre teve como característica retratar histórias reais em seus trabalhos. Em Eu de você, ela eleva isso a uma potência admirável. A princípio, pode parecer algo despretensioso, até simples, mas a forma como aquilo tudo é contado torna impossível não se identificar.
As angústias de nunca dar conta de tudo, da sensação de sempre estar atrasado em relação a alguma coisa, e principalmente, da imensa dificuldade de tirar os olhos da tela e olhar pra cima, mais precisamente para o outro. O espetáculo nos faz refletir o quanto simplesmente olhar para alguém se tornou algo desconfortável, e como isso é assustador e problemático.

Uma atriz, sozinha e descalça no centro de um palco branco, que aos poucos é tomado por histórias e personagens que poderiam ser de qualquer lugar: do mercado, metrô, aquele artista que toca na calçada. Essa mesma atriz mantém o olhar na plateia, um olhar profundo, daqueles que dizem muito sem nada dizer, e nos faz perceber como um simples gesto pode ser poderoso e transformador.
A gente sai de uma sessão de Eu de você voltando a acreditar nas pessoas, voltando a acreditar em nós mesmos. Em nossa capacidade de amar, de se ouvir, de se olhar de verdade, tanto para dentro, quanto para fora.
Denise Fraga nos injeta uma imensa vontade de existir, de encher os pulmões de vida, mesmo quando somos soterrados todos os dias por notícias ruins, e nos lembra que mesmo em meio a muitas dificuldades, sempre teremos uns aos outros.


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