Company e a Necessidade da Solidão: Explorando os Relacionamentos no Musical de Stephen Sondheim

Quando tinha 19 anos, experimentei um dos términos mais dolorosos da minha vida. Naquele momento, decidi que nunca mais me envolveria em um relacionamento. Anos se passaram, e felizmente, não mantive essa promessa. No entanto, em 2020, percebi que tudo de que realmente precisava era um período de solidão. Embora não soubesse como expressar exatamente o que sentia, voltei para o único em que eu puderia encontrar a resposta. O Teatro Musical. Fiquei horas vendo números no YouTube, até que eu encontrei um perfomace intitulada Being Alive e tudo mudou. Foi nesse momento que descobri Company, de Stephen Sondheim.

Lançado pela primeira vez em 1970, Company é um musical que explora a vida de Robert, um solteiro na casa dos trinta anos, cercado por amigos casados. A trama é costurada através de uma série de cenas que revelam os altos e baixos dos relacionamentos dos amigos de Robert, enquanto ele reflete sobre o conceito de casamento e busca entender por que tantas pessoas desejam comprometer-se.

Solidão e a Busca por Significado

Company é uma obra-prima de Stephen Sondheim que captura de maneira ímpar a complexidade das relações humanas. Ao imergir nas vidas interligadas desse grupo de amigos e explorar a solidão que frequentemente acompanha os relacionamentos, o musical destila as alegrias e desafios envolvidos na busca pelo amor e conexão.

O musical não apenas explora a solidão de Robert como solteiro em um mundo de casais, mas também lança luz sobre a própria solidão de seus amigos casados. Cada casal apresenta nuances distintas de insatisfação e busca por significado dentro de seus relacionamentos, o que confunde ainda mais a percepção de Robert sobre amor e compromisso.

Assim como Bob, eu via nos meus amigos uma forma de escapar da dor que eu estava sentindo, fingindo que somente eles bastavam e que eu não precisava me abrir para ninguém. E esse musical me fez perceber como essa “ilusão” da Companhia é falha.

Canções que Contam Histórias

A força de Company não reside apenas em sua narrativa habilmente construída, mas também nas memoráveis canções de Sondheim. Destacam-se músicas como Being Alive e The Ladies Who Lunch, que expressam as emoções profundas dos personagens, expondo suas vulnerabilidades e desejos mais íntimos.

Em particular eu me conectei muito com Being Alive, pois ela captura a transformação de Robert, à medida que ele evolui de uma atitude cética em relação ao casamento para uma compreensão mais genuína da necessidade de conexão humana. Foi exatamente essa canção que transformou minha perspectiva. Assim como Robert, eu estava usando minhas frustrações como uma fuga para evitar meus sentimentos, não permitindo a mim mesmo “Estar Vivo” e aproveitar as alegrias e dores na minha vida.

A Complexidade das Relações Humanas

Company não apresenta uma visão idealizada dos relacionamentos. Pelo contrário, mergulha na complexidade e ambivalência frequentemente associadas ao amor e ao compromisso. As interações entre os personagens são repletas de momentos cômicos e tensos, transmitindo a sensação de que os relacionamentos não consistem apenas em alegria constante, mas também em aceitar as falhas e enfrentar as adversidades.

Foi nesse ponto que o musical me conquistou. Ele não tenta colocar uma “imagem perfeita” de relacionamento e de amor, mas sim, mostrar o que a realidade é: pessoas falhas que erram e tentam se aceitar. Eu percebi que tinha criado esse ideal romântico de relações perfeita na minha cabeça. Mas Company me fez questionar isso.

Legado Duradouro

Ao longo das décadas, “Company” continua a ressoar junto ao público. Acredito que a razão pela qual essa obra permanece atual, através de revivals e até adaptações com protagonistas de gênero trocado, é porque sua história é atemporal. Todos nós já fomos um pouco como Robert em algum momento da vida, perdidos em nossa própria solidão, ou nos identificamos com seus amigos. Eu mesmo, já passei por diversas decepções amorosas, mas sigo tentando ser melhor.

A busca por conexão, a solidão inerente às relações humanas e a complexidade dos sentimentos são temas que transcendem gerações, continuando a tocar os corações dos espectadores. Company é um testemunho da habilidade de Stephen Sondheim em capturar as complexidades da condição humana através da arte do teatro musical. Ao explorar a solidão dentro e fora dos relacionamentos, o musical nos lembra que, apesar das dificuldades, a busca por amor e conexão é uma parte essencial da experiência humana.

Às vezes, utilizamos a solidão como fuga dos nossos problemas, mas ela é mais do que isso. É um espaço de reflexão onde podemos nos recompor. Contudo, se a transformamos em nosso refúgio permanente, corremos o risco de nos prendermos.

Como afirma o próprio musical: “você tem tantos motivos para não estar com alguém, mas não tem nenhum motivo para estar sozinho”. Às vezes, complicamos demais certos aspectos da vida, buscando a perfeição, mas a vida nunca é perfeita. Como Sondheim disse em sua obra: “ei, amigo, não tenha medo de que não seja perfeito. A única coisa que você realmente deve temer é que não será”.

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