BM ENTREVISTA: Maestro José Soares rege a Filarmônica de Minas Gerais em concerto inesquecível, trazendo os grandes clássicos da Broadway
A Sala Minas Gerais é um dos grandes tesouros de Belo Horizonte. Um daqueles lugares que você olha e pensa: como assim isso existe tão perto de mim? É a personificação da arte e do quão importante é que ela se faça presente, que esteja em mais lugares, que rompa a ideia de que algumas áreas da cultura só podem ser encontradas no eixo Rio-São Paulo ou, de forma ainda mais inacessível, fora do país.
E Minas Gerais tem cultura a cada esquina – isso é um fato. Cada cidadezinha mineira é um livro aberto de histórias. Inclusive, ser mineiro é carregar os causos dentro de si: que me perdoe o restante do país, mas uma história contada por um mineiro só fica melhor que uma história contada por um mineiro com pão de queijo e café.
Mas ao contrário do que as pessoas tendem a pensar da arte, ou do artista de forma geral, é que nos viramos em qualquer circunstância. Que produzir arte pode ser feita sob romantizações constantes de pobreza e falta de estrutura – infelizmente, isso virou uma realidade, mas não é nem de longe uma verdade. Por isso, sou e sempre serei uma presença constante na Sala Minas Gerais. Não só pela competência absurda da filarmônica, considerada uma das melhores do país e do mundo, como pelas iniciativas recorrentes de tornar a música clássica acessível. A Sala Minas Gerais está sempre abrindo as portas do espaço com programas gratuitos e/ou a preços populares; além disso, levam os músicos a concertos mensais pela capital e outras cidades mineiras. Além de, claro, ter uma estrutura absurda, colocando Belo Horizonte no mapa seleto das poucas cidades no mundo inteiro a ter uma orquestra tão impecável.
Qual a minha surpresa, portanto, que eles tenham mais uma vez quebrado todos os paradigmas ao trazer, entre o repertório sempre muito bem acurado, um cenário mais pop e divertido com as músicas mais amadas dos musicais clássicos da Broadway.
Como mineira e amante dos musicais, não poderia ter deixado de entrar em contato com a equipe de divulgação da filarmônica. E não só fui extremamente bem recebida, como tive a oportunidade de entrevistar José Soares, maestro associado da Filarmônica de Minas Gerais e regente do concerto “Musicais da Broadway”. A entrevista você pode conferir logo abaixo.
Ser um diretor musical/maestro de teatro pode ser muito diferente de reger uma orquestra. Você já teve alguma experiência parecida? Teria vontade de reger um musical da Broadway no futuro?
A função essencial de um maestro é ser um facilitador, um ‘gestor’ artístico de um projeto de performance. É importante dizer que a formação musical e humana constrói a base para podermos trabalhar com diferentes grupos e linguagens artísticas, podendo desenvolver mais experiência em algum destes. Em minha formação, tive oportunidade de lidar com diferentes repertórios, incluindo uma montagem acadêmica de ‘Os Miseráveis’. E esses dois mundos estão mais próximos do que imaginamos. Não me lembro a primeira vez que escutei a música de West Side Story, de Leonard Bernstein, mas certamente está na lista de obras que sonho em reger futuramente.
Como vocês chegaram na ideia de trazer musicais amados pelo público para a agenda da filarmônica?
Buscamos, em nossos Concertos Especiais – isto é, aqueles que não fazem parte de nossa série de Assinaturas da Temporada – compartilhar um repertório que instigasse o público a querer vir ter a experiência de algo fora do usual. Importante dizer que o principal critério é mostrar a orquestra como protagonista e aproximá-la de cada vez mais pessoas. E a linguagem do Teatro-Musical, com um vasto repertório de Aberturas e Suítes, se encaixa perfeitamente nessa proposta.
Qual a diferença entre reger um concerto clássico e um concerto como esse?
Se você se referir a ‘concerto clássico’ como um repertório canônico de Beethoven e Mozart, digo que as diferenças são de ordem mais prática do que artística. Esse programa de musicais contém 9 obras, divididas entre Suítes e Aberturas; enquanto uma forma Sinfonia preenche a metade de um concerto, é preciso guiar o grupo em nove narrativas diferentes, e isso também é um desafio.
Um músico profissional é formado com a capacidade de transitar em diferentes estilos. Assim como podemos tocar uma obra do século XVIII, e na sequência, uma música composta na semana passada, é um dos desafios e privilégios da rotina poder navegar por tempos e estéticas musicais.
Interessante mencionar que, em uma récita de Teatro-Musical, para além do trabalho com o elenco, que requer exigências musicais, teatrais e coreográficas, estamos a serviço de ‘contar a história’ da maneira mais autêntica ao público. Em um concerto sinfônico, essa história é contada sem palavras, bem como faremos nas duas noites na Sala Minas Gerais.
Como foi o processo de escolha das músicas? Tem alguma que você queria muito e que tenha ficado de fora? Entre as que estão no programa, tem alguma favorita?
A pergunta nos dá a oportunidade de compartilhar o processo de seleção de repertório. Não se trata de uma ‘playlist’ que escolhemos à nossa revelia de gostos e afetos. Há uma questão prática inicial: sem os cantores, temos que pesquisar quais títulos possuem Suítes compostas – é o caso de Evita, Jesus Cristo Superstar ou Noviça Rebelde; ou no caso de My Fair Lady e Mary Poppins, se há como obter a Abertura.
Buscamos uma conexão de obras que pudessem contar a própria história desse gênero, mesclando títulos mais antigos, como a música de Rodgers e Hammerstein, até os (nem tão jovens mais) de Andrew Lloyd Webber. E o critério é a adequação dessas partituras em dar o protagonismo à orquestra para contar essas histórias. O repertório é vasto e o tempo é exíguo, mas creio que fizemos uma seleção convidativa aos diletantes àqueles que estão pela primeira vez neste universo.
Chamo a atenção para a primeira e última obra do Concerto. A Abertura de West Side Story, história que é uma releitura de Romeu e Julieta de Shakespeare, faz uma conexão com a tradição do repertório ao compartilhar as belas melodias de Bernstein.
Já a Suíte de O Fantasma da Ópera é a obra em maior duração da noite, e vai contar praticamente toda a história desse amor impossível de uma maneira mais que especial. Vamos notar uma orquestra que não está apenas acompanhando melodias, mas protagonizando a narrativa musical. É significativo dizer que essa partitura foi composta durante o período da COVID-19 e gravada em um dos Teatros (fechados) de Lloyd Webber.
Das profundezas da Ópera de Paris aos Alpes, passado e presente se integram na Sala Minas Gerais, unindo o público à orquestra nesta viagem de muitas emoções.
Para quem já comprou o ingresso e está com a presença marcada, o que o senhor diria para aproveitar a noite ao máximo?
Pego emprestadas as palavras do que escuta a beata Noviça Rebelde: suba cada montanha, até encontrar seu sonho. Nessas duas noites, vamos juntos subir cada montanha de músicas e compartilhar todos os personagens que ali existem, multiplicados no universo fantástico da orquestra.
Natural de São Paulo, José Soares é Regente Associado da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde 2022, tendo sido seu Regente Assistente nas duas temporadas anteriores. Venceu o 19º Concurso Internacional de Regência de Tóquio (2021), recebendo também o prêmio do público. Bacharel em Composição pela Universidade de São Paulo, iniciou-se na música com sua mãe, Ana Yara Campos. Estudou com o maestro Claudio Cruz e teve aulas com Paavo Järvi, Neëme Järvi, Kristjan Järvi e Leonid Grin. Foi orientado por Marin Alsop, Arvo Volmer, Giancarlo Guerrero e Alexander Libreich no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão. Pelo Prêmio de Regência recebido no festival, atuou como regente assistente da Osesp na temporada 2018. José Soares foi aluno do Laboratório de Regência da Filarmônica e convidado pelo maestro Fabio Mechetti a reger um dos Concertos para a Juventude da temporada 2019. Dirigiu a Osesp, a New Japan Philharmonic, Sinfônica de Hiroshima e Filarmônica de Nagoya, no Japão. Em 2024, conduziu a Orquestra de Câmara de Curitiba, a Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina, a Sinfônica Jovem do Rio de Janeiro, a Sinfônica do Paraná, junto ao Balé do Teatro Guaíra, retornou à Osesp e à Sinfônica Jovem de São Paulo, e tem concerto agendado com a Orquestra Sinfônica Brasileira – OSB, no Rio de Janeiro.
Informações importantes
INGRESSOS:
R$ 39,60 (Mezanino), R$ 50 (Coro), R$ 50 (Terraço), R$ 72 (Balcão Palco), R$
92 (Balcão Lateral), R$ 124 (Plateia Central), R$ 160 (Balcão Principal) e
R$ 180 (Camarote).
Ingressos para Coro e Terraço serão comercializados somente após a venda dos
demais setores.
Meia-entrada para estudantes, maiores de 60 anos, jovens de baixa renda e
pessoas com deficiência, de acordo com a legislação.
Informações: (31) 3219-9000 ou <http://www.filarmonica.art.br>
www.filarmonica.art.br
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