Um futuro onde robôs aposentados vivem sozinhos em pequenos apartamentos em Seul, esperando por donos que talvez nunca voltem. Onde máquinas com aparência humana ainda ouvem jazz, cuidam de plantas e… sentem saudades. Estranho? Sim. Mas em Maybe Happy Ending (ou 어쩌면 해피엔딩, em coreano), tudo isso faz sentido. E o que é mais espantoso: faz a gente chorar.
Esse musical sul-coreano, com letras de Hue Park, música de Will Aronson e direção original de Kim Dong-yeon, estreou em 2016 e virou um fenômeno quase silencioso. Uma obra que fala baixinho, e justamente por isso, nos atravessa. Em 2024, a peça chegou à Broadway com direção de Michael Arden, e de repente o mundo (ocidental, ao menos) descobriu o que os coreanos já sabiam há anos: Maybe Happy Ending é uma pérola.
O som da solidão

A trama gira em torno de Claire e Oliver, dois robôs ajudantes desativados e abandonados por seus donos. Ele, antiquado, solitário, fiel à rotina. Ela, mais recente, espirituosa, meio avariada, mas com uma centelha de liberdade que logo vira curiosidade, e depois… algo mais.
O charme do musical está em observar como essa relação cresce. Como uma xícara de chá, uma troca de discos ou um passeio noturno podem ser revolucionários quando se está sozinho há muito tempo.
Almas de porcelana

Na montagem americana de 2024, a direção de Michael Arden foi certeira ao equilibrar a precisão “robótica” dos movimentos com uma delicadeza quase etérea. Os atores Darren Criss (Oliver) e Helen J. Shen (Claire) roubaram a cena e os corações da plateia.
Criss, conhecido do grande público por Glee, entrega aqui um trabalho completamente diferente. Seu Oliver é contido, mecânico nos gestos, mas com uma ternura crescente, que escapa até mesmo nos silêncios. Ele faz do olhar uma partitura e da espera um ato de fé. Uma atuação minimalista e devastadora.
Já Helen J. Shen foi a revelação da temporada. Sua Claire é elétrica, engraçada, espontânea, mas nunca caricata. Shen domina os momentos cômicos com precisão milimétrica, e nos momentos de vulnerabilidade… bom, eu não consegui parar de chorar.
Juntos, os dois constroem uma relação cheia de camadas: não é só romance, é amizade, é parceria, é medo, é esperança. Tudo isso com timing musical impecável, em interpretações que pareciam feitas de porcelana: frágeis, porém eternas.
Da Coreia à Broadway: o que mudou?

Apesar de manter a estrutura e as músicas principais, a versão da Broadway de Maybe Happy Ending trouxe mudanças marcantes em relação à original sul-coreana, incluindo personagens extras como o cantor Gil Brentley, subtramas expandidas com a introdução de Junseo, filho do antigo dono de Oliver, e uma encenação mais tecnológica, com uso de projeções e iluminação elaborada.
Além disso, houve ajustes no ritmo e no humor para se adequar ao público ocidental. Mesmo com essas diferenças, a essência permanece: a descoberta do afeto entre dois seres que não deveriam ser capazes de sentir.
Talvez feliz, talvez eterno
Maybe Happy Ending é mais que um musical. É uma meditação delicada sobre o tempo, a memória, os laços invisíveis que formamos e que talvez nem o esquecimento consiga apagar. A peça fala de robôs, sim. Mas o que ela realmente toca é a parte mais humana em nós: a necessidade de conexão.
E se você estiver preparado para rir, se encantar, e talvez deixar escapar algumas lágrimas, então sim. Talvez este seja o seu final feliz também.

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