Com gosto de sorvete, Donatello nos lembra o que realmente importa: a gente

Se tem uma coisa que une a todos nós, é a memória. Todo mundo tem lembranças que quer guardar, ou esquecer. E histórias que mexem com uma coisa tão genuinamente nossa sempre vão gerar alguma identificação.

A memória é o fio condutor de Donatello, musical escrito e estrelado por Vitor Rocha. Aqui, Vitor, que também é autor de grandes sucessos como Se Essa Lua Fosse Minha, O Mágico de Ó, encarna um personagem da infância até a fase adulta, em toda uma vida permeada pela presença do avô, que dá nome à história.

Quando o neto percebe que o avô está perdendo suas memórias por conta do Alzheimer, ele se desespera. Então, inicia uma comovente jornada, tentando associar memórias aos sabores de sorvete, aquilo que sempre uniu os dois. Dessa forma, na ideia inocente de uma criança, as lembranças jamais se perderiam.

O Alzheimer é uma doença silenciosa e cruel, mas, como vemos em Donatello, nos faz enxergar muito o valor da presença, de fato.

Acompanhado pelo brilhante Felipe Sushi no teclado, Vitor nos transporta pelas memórias de um neto, que acabam virando as nossas memórias também, afinal, todo mundo tem uma lembrança com alguém, todo mundo queria esquecer ou recordar de alguém. Em pouco mais de uma hora, essa mensagem é embalada em um texto simples, sem extravagâncias, com uma mesa, uma cadeira e uma bicicleta como cenário, em uma apresentação pequena que consegue ser grandiosa, profunda e comovente.

Vitor Rocha já nos emociona com suas histórias há um bom tempo. Ele consegue trazer o extraordinário para o ordinário, extrair beleza e poesia de coisas que passam despercebidas. É o tipo de autor que faz você olhar e refletir, “como ninguém pensou nisso antes?”… E ele sempre faz isso de forma criativa e envolvente. 

Donatello é o tipo de história que vai nos abraçando aos poucos. Estamos ali, achando fofo o relacionamento de um neto com o avô… E de repente, estamos com os olhos marejados, refletindo sobre o que estamos fazendo de nossas vidas, e como tratamos nossos amores.

É impossível escapar. O texto, as músicas, a interpretação, o sorvete, as fotos de família, as memórias… Você saíra impactado de Donatello, não há outra opção. E isso tudo acontece sem você nem perceber.

Associar a vida a um sorvete pode parecer algo infantil, de primeira. E talvez seja, que mal faz? Afinal, faz todo o sentido do mundo: assim como o sorvete, é preciso tomar a vida depressa, antes que ela comece a derreter.

Donatello fica em cartaz no Teatro Glaucio Gill, nas quintas e sextas de outubro, às 20h.

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